Introdução
Sem sombras de dúvidas o número sete é o mais significante em toda filosofia, literatura sagrada, natureza, mitos e representações. Encontramos o sete em vários setores da cultura, seja através de ditados populares como:
“Guardar um segredo a sete chaves”, “o gato tem sete vidas” e “isso não é um bicho de sete cabeças”.
Até assuntos gerais como:
“As sete maravilhas do mundo”, “os sete Reis de Roma”, “os sete sábios da Grécia”, “os piratas dos sete mares”, “os sete pecados capitais”, “as sete virtudes” e “as sete ciências do mundo antigo”.
No campo religioso o sete também é explorado de várias formas e condições:
-Na umbanda temos as setes linhas, os setes Orixás, os Exus das sete encruzilhadas e os Caboclos que usam sete flechas.
– Na sociedade teosófica e maçonaria encontramos os sete raios espirituais, os sete corpos, os sete chacras e as sete hierarquias espirituais ou angelicais, além claro, dos sete princípios herméticos.
-Na Bíblia sagrada podemos encontrar em apocalipse as sete igrejas, os sete selos, as sete trombetas, os sete anjos, as sete taças e, finalmente, a vitória do Cordeiro representada através do número 777.
Não podemos esquecer também que quase todas as religiões concordam que a criação do mundo foi consolidada em sete dias.
Curiosamente na natureza também encontramos o número sete de forma bem abrangente:
Temos as sete cores do arco Iris, os sete pontos de referência no mundo tridimensional (frente, traz, direita, esquerda, acima, abaixo e centro), os sete elementos básicos do universo (Força nuclear forte, força nuclear fraca, força eletromagnética, força gravitacional, neutros, eletros e quarks), e para finalizar, os grupos de sete vértebras, os sete orifícios do crânio, e a mudança da personalidade a cada sete anos.
Considerado o número da perfeição, o sete também serviu de tema para expressões artísticas variadas, desde a 1ª Arte com a música sendo representada através de sete notas musicais, até a 7ª Arte com vários filmes abordando o tema. Como aqui o que importa para nós é a 1ª Arte, falarei de uma das mais importantes e pioneiras bandas de Heavy Metal do Brasil, o Harppia, e de seu “cabalístico” disco “Sete”.
Saiba mais sobre o Harppia na primeira parte deste especial clicando no link abaixo:
O disco “Sete”
Após o sucesso eminente do EP “A Ferro e Fogo”, o Harppia sofre uma significativa mudança na formação. O baterista Tibério Luthier assume o comando da banda e recruta novos músicos, dentre eles grandes nomes do Rock/Metal nacional como por exemplo o excelente vocalista “Percy Weiss”, ex- Made in Brazil e Patrulha do Espaço.
Tibério com o intuito de se igualar profissionalmente e performaticamente às grandes bandas norte americanas e europeias, faz um grande investimento em equipamentos, adquirindo 12 amplificadores de guitarra Majors Marshall (cabeçote e 2 caixas cada), 4 amplificadores para baixo Ampeg 400 (cabeçote e caixas com 10 falantes), P.A.s, iluminação com o que havia de mais moderno no mercado e sua lendária Bateria de Fogo Luthier. Com um time e equipamentos de primeira linha, o Harppia entra em estúdio para a gravação de mais um clássico da banda, o mais que interessante “Sete”.
Considero o disco um dos primeiros a seguir um padrão, digamos, “conceitual” a ser produzido por uma banda de Heavy Metal no Brasil. Assim como o Iron Maiden, que traz um tema principal e depois explora esse elemento com músicas variadas dentro do álbum, “Sete” segue esse exemplo adicionando elementos criativos e interessantes em relação ao significado de seu nome.
Vamos a alguns deles:
O álbum foi gravado no ano de 1987 e contém sete músicas. A música de número sete do LP chama-se “sete” e contém sete minutos, sem contar que a primeira faixa do trabalho chamada “Na Calada Da Noite” foi concebida sobre o compasso 7/4.
Na capa também podemos encontrar algumas representações:
Se medirmos de ponta a ponta a asa da harpia, teremos 28 centímetros (múltiplo de sete). A primeira e última letra do nome da banda (que coincidentemente tem sete letras) medem sete centímetros cada, e se repararmos no “H”, perceberemos que a ponta superior esquerda forma o número sete. Lembrando que essas medidas só podem ser encontradas na versão original lançada em vinil.
No site oficial da banda o grupo convida os ouvintes a descobrir o enigma do sete e como ele está distribuído no álbum. Faço o mesmo desafio a vocês, se descobrirem algo referente que não foi citado nesta matéria deixe nos comentários que atualizarei o texto.
(!) Atualização:
Após a publicação da matéria, o próprio Harppia através de seu perfil oficial do facebook alertou haver mais sete elementos na contracapa que contém o número sete.
Depois de quebrar uma pouco a cabeça tentando descobrir sem sucesso estes pontos, “Aya Maki” (Guitarrista atual do Harppia), através do WhatsApp e com a ajuda de “Tibério “Luthier” Correa” me ajudou com essa questão:
Se reparamos na diagramação da lista de músicas, perceberemos que ela forma o número sete.
O ano escolhido para a gravação, 1987, tem mais um sentido logico. Além de ser o ano sete da década de 80, se somarmos todos os números do ano (1+9+8+7) teremos 25 como resultado, somando esse resultado (2 + 5) teremos mais um sete .
Sendo assim, os sete elementos da contracapa são:
– Sete musicas
– A música sete chama-se “sete”
– A faixa de abertura (Na calada da noite) é um 7/4
– O logo do Harppia formado por sete letras
– O ano de lançamento é o ano sete da década de 80
– Se somarmos os números do ano de lançamento do álbum teremos um sete
– A diagramação da ordem das músicas forma um sete
Tibério também destacou que a ausência do guitarrista “Flávio Gutok” na foto da contracapa, foi devido a um sério acidente que o musico sofreu, deixando o mesmo entre a vida e a morte. A dedicatória para ele no encarte foi devido a este fato.
Resenha
Musicalmente o álbum segue a mesma linha do EP “A Ferro e Fogo”, com um Heavy Metal tradicional cantado em português repleto riffs e climas.
O disco abre com a forte “Na Calada da Noite”. A faixa traz 55 segundos de introdução onde ótimas dobras de guitarras antecipam a viciante linha vocal de Percy Weiss. Não posso deixar de destacar os excelentes solos e principalmente as pesadas bases compostas para eles.
Realmente as guitarras são um ponto forte em “Sete”, uma prova é a introdução de “Voz da Consciência”. Com um solo digno de respeito, essa faixa é uma de minhas favoritas, tanto por sua bela melodia e clima, quanto por sua letra e técnica. Sem sombras de dúvidas “Voz da Consciência” é um clássico do Heavy Metal nacional.
Seguindo o exemplo do hino “Salem (A cidade das Bruxas)”, “Magia Negra” discorre sobre o “ocultismo”, onde um homem luta para desprender-se das forças obscuras. Aqui podemos perceber um ar meio Iron Maiden da época do Killers, composto por um baixo muito marcado e competente.
Uma das músicas mais bonitas já compostas pelo Harppia é a carismática “Balada”. A canção tem uma marcante letra recitada sobre dedilhados de violão e arranjos de teclado. Devido ao seu clima saudoso e brando, a faixa esta sendo usada no documentário “Brasil Heavy Metal” em homenagem aos músicos de nosso cenário que já não estão mais entre nos.
Após a reflexão de “Balada”, a porrada volta a tomar conta do disco com uma sequência matadora, “Guerra” e “Aids”. Ambas as faixas trazem aquele Heavy Metal oitentista digno e competente. “Aids” por exemplo é quase que uma “versão” nacional de “Doctor Doctor” do U.F.O, porém recheada daquela pegada “Harppiana” tão aclamada pelos fãs. Vale lembrar que esta faixa marcou uma geração de bangers Brasileiros que cantavam a pleno pulmões seu marcante refrão.
A música “Sete”
A faixa “Sete” representa poeticamente tudo aquilo que podemos definir como Heavy Metal, e com toda certeza foi um marco para o metal nacional. O conceito gira em torno de uma oração aos demônios, sete deles pra ser mais preciso.
Segundo o vocalista Percy Weiss, a faixa foi inspirada num livro inglês de antropologia sobre os medos que assolam a humanidade. Percy não lembra o nome do escritor ou mesmo o título do livro, porém relata que o trabalho foi resultado de uma pesquisa que durou mais de vinte anos.
A famosa oração foi encontrada em escavações na antiga babilônia a dois mil anos antes de cristo, escrita em uma tabuleta feita de barro cozido. Percy afirma que a oração não é uma convocação aos demônios, mais sim uma conjuração de afastamento, e que não usou a oração de forma literal na música, porém descreveu os sete demônios da mesma forma que foram resenhados no livro.
Acompanhe um trecho da letra:
Eles são sete, Sete eles são
No profundo Oceano, Sete eles são
Estão vivendo entre o Céu e a Terra
Engendrados nas profundezas do Mar
“Sete” tornou-se um clássico do Heavy Metal nacional, marcando época e mostrando muitas peculiaridades, principalmente na edição original distribuída pela própria banda, que contém um carimbo dourado escrito SETE no canto superior esquerdo.
Se gosta de Heavy Metal nacional, história e dedicação, corra atrás deste disco.
Indispensável!!
Line Up:
Percy Weiss – vocal;
Filippo Lippo – guitarra;
Flávio Gutok – guitarra;
Cláudio Cruz – baixo;
Tibério “Luthier” Correa – bateria.
Percy Weiss – vocal;
Filippo Lippo – guitarra;
Flávio Gutok – guitarra;
Cláudio Cruz – baixo;
Tibério “Luthier” Correa – bateria.
Track List:
Na Calada da Noite;
Voz da Consciência;
Magia Negra;
Balada;
Guerras;
AIDS;
Sete
Na Calada da Noite;
Voz da Consciência;
Magia Negra;
Balada;
Guerras;
AIDS;
Sete
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