terça-feira, 5 de março de 2019

Europe: Carrie vs Carrie a estranha


Sendo a arte uma atividade humana diretamente ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de uma grande variedade de linguagens (como arquitetura, desenho, escultura, pintura, escrita, música, dança, teatro e cinema), pode muito bem ocasionalmente gerar obras distintas que acabam encaixando-se perfeitamente no enredo de outra. Esse é o caso de duas grandes obras, uma da literatura e outra da música, que mesmo em anos diferentes e com temas também diferentes, acabam soando como sendo parte uma da outra.  Estou falando da obra literária de Stephen King “Carrie a estranha” de 1974 e a canção “Carrie” da banda Sueca Europe lançada no álbum The Final Countdown de 1986.
É nítido que a faixa do Europe composta por Joey Tempest e Mic Michaeli é uma canção que narra o termino de um relacionamento. Segundo algumas fontes a letra foi inspirada numa namorada de Joey Tempest que acaba terminando com o vocalista devido uma traição do mesmo. Diferente da canção, o clássico de Stephen King traz a história da jovem Carietta White (Carrie) que é caracterizada como sendo uma menina insignificante, introspectiva, atrasada, pouco instruída, gorda e com o rosto repleto de espinhas.
Filha de uma fanática religiosa, Carrie é muito hostilizada pelas suas companheiras de classe, no qual uma delas (Sue Snell) acaba se arrependendo das “brincadeiras” de mal gosto e como forma de desculpas pede para seu namorado (Tommy) levar Carrie ao baile de formatura e dar a garota um pouco de felicidade e popularidade. O problema é que Chris Hargensen, uma aluna proibida de ir ao baile, prepara uma chocante armadilha para ridicularizar Carrie na frente da escola, o que ninguém imaginava era que Carrie detinha poderes paranormais (telecinesia) e acaba ceifando a vida de quase todos no local.
“Carrie a estranha” é um clássico que aconselho que vocês desfrutem, portanto privei no pequeno resumo acima dar detalhes chave da obra. Vale lembrar que existem alguns filmes baseados neste best seller, que aliás é o primeiro de Stephen King a ganhar uma adaptação para o cinema. O primeiro deles é o homônimo “Carrie a estranha” de 1976, o segundo é uma fajuta sequencia lançada em 1999 (que nada tem de ligação com o livro) chamado “A maldição de Carrie”. Em 2002 uma versão muito fraca foi lançada para a TV com o nome de “Carrie”, já em 2013 um remake atualizando a obra de King para o século XXI foi feito e vale muito a pena ser conferido.
Voltando ao ponto central desta matéria, onde obras distintas acabam se entrelaçando, vou mostrar o exato ponto onde a canção do Europe se encaixa na obra de King:
Ouvindo com mais detalhes a canção, percebemos que ela não se trata de uma balada melosa ou mesmo romântica no sentido clássico do estilo, ela soa melancólica, triste e arrependida. Sua estrutura que progride junto aos acordes de piano representa uma pessoa que lamenta por algo, porém não pode desfazer o acontecido, típico de traição, porém se formos ouvir a canção como sendo Sue Snell da obra de King falando com Carrie após a morte da mesma a música parece ter um outro sentido.
Na música Carrie parece que morreu (assim como a Carrie do livro) e ele nunca mais vai poder vê-la novamente! A não ser quando as luzes se apagarem, ou seja nos sonhos, ou em sua própria morte!
No refrão podemos ver o cantor chamar sua ex de AMIGA, ou será Sue consolando sua amiga Carrie? Acompanhe:
“Carrie! Carrie!
As coisas mudaram, minha amiga
Carrie! Carrie!
Talvez nos encontremos novamente em algum lugar, novamente”
Mesmo se tratando de jovens a obra dá a entender que Sue é madura pra sua idade, inclusive no filme a mãe diz que sua filha é uma boa menina. Se você acompanhou a obra de Stephen King sabe do arrependimento de Sue e no quanto ela queria corrigir as coisas com Carrie, porém nada pode ser feito:
“Eu leio sua mente,
Sem intenção de ser cruel
Eu queria poder explicar,
Isto leva tempo com muita paciência”

Como dito antes, sabemos que a faixa foi inspirada numa namorada de Joey Tempest, porém, quem sabe essa coincidência artística não seja vazia, e inconscientemente Joey Tempest e Mic Michaeli estiveram por detrás dos olhos arrependidos de Sue Snell na composição de Carrie. De qualquer forma fica ai a curiosidade e a ligação destas duas grandes obras, na qual só teremos certeza de suas reais linhas “Quando as luzes se apagarem”.