quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Heavy Metal: “Culturas negra e indígena no heavy metal nacional”


A riqueza artística e expressiva figurada através do Heavy Metal consegue unir de forma criativa, música, literatura, poesias, filosofias e ciência. O estilo várias vezes trouxe aos palcos fatos históricos e acontecimentos importantes da humanidade, transformando seus discos e shows em verdadeiras aulas. Um professor que levou essa ideia a sério foi o educador Willian Castilho de Moraes com seu trabalho “Culturas negra e indígena no heavy metal nacional” chegando a ter seu nome na academia pindamonhangabense de letras.
Willian Castilho de Moraes é professor graduado em história, músico e escritor, tendo dois livros publicados (Mãos Machucadas e Jaula Invisível). O trabalho, “Culturas negra e indígena no heavy metal nacional”, explora a importância da influência da música brasileira para a renovação do Heavy Metal mundial, usando como ponto de partida as composições das bandas Angra e Sepultura, já que as mesmas utilizam elementos musicais de origem nacional, tanto na incorporação de instrumentos quanto melodicamente, sem contar a temática das letras que explora a história dos povos indígenas e africanos.
Castilho diserta sobre a importância que os álbuns “Roots” do Sepultura e “Holy Land” do Angra tiveram para a valorização da cultura Brasileira, visto que ambos chegaram a cruzar o globo. Para isso (como um bom professor de história) Castilho narra o conceito dos álbuns e avalia historicamente seu conteúdo, “Roots” por exemplo traz letras de protesto direcionada a miscigenação brasileira, os primeiros habitantes do Brasil e o processo civilizatório imposto pelos portugueses sobre as tribos indígenas. Já “Holy Land” (apesar de seguir a mesma linha crítica de Roots) foca mais no Brasil em 1500, quando foi descoberto pelos portugueses que encontraram um povo nativo e “estranho” ao chegarem em terras tupiniquins.

“As bandas inovaram e criaram um heavy metal que só poderia ser produzido no Brasil. Roots e Holy Land marcaram o cenário musical nacional e internacional e se tornaram uma enorme influência para as bandas do estilo. As canções retratam nossas raízes sangrentas, marcadas pelo processo civilizatório dos europeus, ao imporem sua cultura aos chamados “selvagens” e escravizarem os negros da África, proibindo-os de manifestar sua cultura. As letras das canções retratam as origens do Brasil, valorizam nossa cultura e fazem uma homenagem àqueles que durante muito tempo foram excluídos, mas que participam de modo radical na formação do povo brasileiro”. (Trecho do trabalho)


Tive a oportunidade de conversar com Willian Castilho de Moraes sobre seu trabalho e a importância do mesmo no meio acadêmico, confiram:
Roadie Metal: Visto que um dos objetivos do trabalho é promover a valorização da cultura brasileira, destacando dois ícones do Heavy Metal nacional como propagadores dessa ideia (Sepultura e Angra), como você observa o subgênero “Metal Nativo” que se dedica exclusivamente a esse objetivo?
Willian Castilho de Moraes: Autêntico e inovador. Depois de Roots e Holy Land o Rock pesado brasileiro “descobriu” a verdadeira música brasileira, várias bandas começaram a adicionar elementos nativos ao seu som. Tanto Angra e Sepultura já tinham feito algo parecido antes dos dois álbuns, Never Understand (Angels Cry) do Angra é incrível e a Bateria de escola de samba em Refuse/Resist (Chaos A.D.) do Sepultura levanta até os mortos. O Metal é bem caracterizado pelas culturas mitológicas como a celta, grega e a nórdica, então por que não caracterizar a cultura brasileira? O Heavy Metal (assim como o Rock no geral) encaixa muito bem com outros estilos musicais como a música Erudita e Barroca. Outros elementos musicais como a música celta também já foi associada ao Metal, agora percussão e ritmos brasileiros foi um divisor de águas na história do Rock pesado. Essa fusão musical criou um estilo de Heavy Metal experimental sem ser considerado modelo de cópia. Quebrou barreiras e preconceitos, foi sucesso mundial. A Europa, EUA e Japão “se ajoelharam” perante ao Metal Brasileiro. As bandas criaram um estilo tipicamente brasileiro, acredito que a América Latina no geral é rica em ritmos dançantes feitos à base de instrumentos de percussão e nós brasileiros fazemos parte dessa estrutura musical a percussão é algo característico do nosso país. É como Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral diziam: “Nós brasileiros somos capazes de deglutir as formas importadas e misturar com a cultura nacional, dessa fusão será criado algo novo e experimental sem cair no modelo de Cópia”. Ao experimentar a fusão do Heavy Metal com elementos nativos, Angra e Sepultura acabaram por criar, sem exageros, uma nova linha de música brasileira, miscigenada, o que é próprio das características da cultura brasileira. A influência foi mundial, bandas brasileiras e internacionais incorporaram a percussão ao seu som. Hoje já temos bandas que podem ser consideradas como “Metal Nativo” como o Arandu Arakuaa uma banda ousada e original.
Roadie Metal: No trabalho você faz justas críticas a mídia Brasileira em relação a marginalização do Heavy Metal nacional, destacando inclusive a dificuldade que as bandas tem em se projetar artisticamente. Como está sendo divulgar sua tese (e estas bandas) em faculdades onde muitas pessoas desconhecem o estilo?
Willian Castilho de Moraes: Um desafio. As pessoas ficam super curiosas para saber do que se trata. Os Headbangers agradecem a iniciativa da divulgação do estilo. Existe um folclore muito grande em cima do Metal, o que mais me chamou a atenção nas palestras (Faculdades e escolas) foi a associação que as pessoas tem do estilo com o Tinhoso. Para muitas pessoas o Heavy Metal era algo criado para o “mal” e foi muito glamoroso para mim fazer cair por terra esse tipo de preconceito. Muita gente me dizia que ia chegar em casa e procurar bandas de Metal no You Tube. O prestígio de se poder falar de Heavy Metal nas escolas e faculdades me deixou perplexo, pois gerava muita curiosidade nas pessoas e no final elas vinham me agradecer por terem aprendido sobre Rock pesado.
Roadie Metal: O trabalho foi premiado pela Universidade Unisal com o prêmio José Luiz Pasin. Como foi a premiação? E como o mesmo foi recebido pela cena Heavy Metal de sua cidade?
Willian Castilho de Moraes: Tenha muita consideração pela Unisal, eles incentivaram de uma maneira fantástica a construção desse trabalho. Para a universidade foi inovador, algo totalmente novo, pois até a minha turma ninguém tinha falado de cultura brasileira e Heavy Metal na história da universidade, pelo menos até onde eu e meus professores sabemos. Foi um trabalho ousado. As apresentações na Unisal geravam debates sadios e interessantes. Na minha cidade na área educacional e cultural foi um espetáculo. Chegamos a apresentar o trabalho na Academia Pindamonhangabense de Letras. Falar sobre Rock pesado na Academia de Letras foi Histórico. Fizemos história, o apoio de professores e dos acadêmicos para a apresentação na Academia e nas escolas de Pinda foi fundamental. O trabalho também foi apresentado em outras universidades da região como UNESP (Guaratinguetá) e Dehoniana (Taubaté). Infelizmente em algumas apresentações o número de “camisetas pretas” era pouco, mas quem sabe eles apareçam nas próximas apresentações, pois o meu objetivo é continuar apresentando a obra.
Roadie Metal: O trabalho cita a origem do Heavy Metal destacando cronologicamente algumas bandas e a criação dos subgêneros, até tornar-se mundial. Atualmente (a exemplo do Sepultura e Angra) quais bandas internacionais você julga ter ajudado nesta globalização usando ritmos e instrumentos típicos de seu país?
Willian Castilho de Moraes: É difícil citar todos os artistas. Sempre acabamos esquecendo um ou outro. Mas para mim quem foi influenciado por Roots e acabou incorporando elementos de percussão em seu som foi o gigante do metal Slipknot. Eles são um dos principais divulgadores do metal com percussão. A banda Korn também adicionou elementos de percussão ao seu som. A referência do Hard Rock mundial a banda alemã Scorpions no seu DVD Live in the Jungle gravado no Brasil incorporou instrumentos típicos brasileiros ao seu som. Se pesquisarmos encontraremos muito mais.
Roadie Metal: Muito obrigado pelas respostas e parabéns pelo trabalho e prêmio. Deixo aqui um espaço para suas considerações e indicações, Abraço!!
Willian Castilho de Moraes: Agradeço a todos de coração pela força e apoio no processo de criação e divulgação do trabalho. É muito prazeroso poder falar de Rock pesado nas escolas e universidades. Sem sombra de dúvidas estamos divulgando o Metal de alguma maneira na região do Vale do Paraíba, fiquei muito honrado em ser entrevistado por vocês fica aqui o meu agradecimento. Para os fãs de música deixo um recado de que devemos acabar com a cultura da “herança colonial” que o Brasil tem, o que seria isso, na época do Brasil Colônia acreditava-se que tudo o que vinha da Metrópole era melhor. Hoje os brasileiros acreditam que tudo o que é importado é melhor, se vem do exterior é melhor do que o nosso, esse pensamento tem que cair por terra. Nem sempre tudo o que vem de fora é melhor, nenhuma cultura está só no mundo, o próprio Rock n’ Roll é um estilo de música importado, que nós Rockeiros amamos. Amo de paixão muito da cultura internacional, mas acredito que também devemos valorizar a nossa. A cultura brasileira é rica e muitas vezes até melhor do que a do exterior, é preciso valorizar mais a cultura nacional. O Brasil possui bandas excelentes vale a pena pesquisar.
É inegável a importância que estes dois álbuns trouxeram para o Heavy Metal nacional, tanto por sua riqueza artística como histórica. Trabalhos acadêmicos como esse são extremamente importantes pois consegue atingir um público que muitas vezes desconhecem esse estilo que tanto amamos.
Link para o pdf com o trabalho completo: “Culturas negra e indígena no heavy metal nacional”

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Curiosidades: Chico Buarque e o Rock/Metal



Uma parcela dos fãs mais “radicais” de Rock/Metal tem um certo preconceito com estilos fora de sua cadeia de ideias, principalmente quando este estilo está ligado a música “popular” de seu país. Bandas como Sepultura e Angra, na contramão deste pensamento, desafiaram essa ideia gravando temas que vão desde Samba a MPB, provando que suas influencias não estão presas a uma regra pré estabelecida, presenteando o estilo com obras impares.
Opiniões e críticas à parte, trarei hoje pra vocês cinco releituras “pesadas” do ícone da MPB Chico Buarque.
Imago Mortis
A Imago Mortis em seu disco “Images From The Shady Gallery” (produzido pela lenda Carlos Lopes da Dorsal Atlântica) de 1998, traz uma excelente versão da música “Deus Lhe Pague” composta e gravada originalmente por Chico Buarque em seu disco “Construção” de 1971.

Golpe de Estado
O quinto álbum de estúdio da banda de hard rock Golpe de Estado, “Zumbi” (1994), traz a canção “Hino de Duran”. A faixa composta por Chico Buarque pode ser encontrada na compilação “Ópera Do Malandro” (Peça Teatral) gravado em 1979 que retrata a repressão cultural dos tempos de ditadura militar. A versão do Golpe de estado, diferente da original, traz alguns versos a mais ao final da canção.

Pitty
A canção “Cálice” revisitada por Pitty em 2011, foi escrita e originalmente interpretada pelos compositores brasileiros Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973, porém, devido a censura da ditadura militar só foi lançada em 1978. A pesada versão da Pitty faz parte da trilha sonora da telenovela “Amor e Revolução”.

Distúrbio Mental
Assumidamente anarquistas e contrários ao moralismo barato, a banda de Punk/ Hardcore Distúrbio Mental de Ribeirão Preto – SP também regravou a clássica “Deus lhe Pague”.

Atila.K.W.
O ainda desconhecido Átila.K.W fez várias releituras “rock” de Chico Buarque, uma de destaque é a fenomenal “Geni e o Zepelim” da Opera do Malandro. A faixa foi muito bem expressada por Atila K.W que conseguiu um ótimo resultado climático e técnico, digno desta icônica canção que nos faz questionar  a moral da sociedade.

Se gostou de ouvir as canções de Chico Buarque expressadas através da pegada contagiante do Rock, existe também um ótimo disco de Sergio Vid intitulado “Rock’n’ Chico” que traz ótimas versões para clássicos da MPB como “Mulheres de Atenas” e “Olhos nos Olhos”.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Sepultura: Anthony Burgess e o disco A-Lex


Variadas expressões artísticas são exprimidas com mãos caprichosas e muitas vezes contestadoras, obras que nos fazem questionar o mundo e observar o mesmo através de uma perspectiva, digamos, diferenciada.
O Heavy Metal sempre buscou esse verniz, inclusive usando obras consagradas para exemplificar sua postura. Um exemplo é o disco A-Lex do Sepultura (2009) que narra a história de “Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange, 1962) escrita por Anthony Burgess.
Ao lado de obras como: “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, “1984” de George Orwell e “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury, “Laranja Mecânica” e considerado um dos maiores clássicos da literatura distópica, sendo este o livro mais conhecido e mencionado de Burgess, tanto que em 26 de abril de 1972 ganhou uma incrível versão para o cinema, adaptado, produzido e dirigido por Stanley Kubrick.
O filme foi tão significativo e forte que percorreu o globo, tornando-se referência no cinema mundial. A película, mesmo tendo alguns detalhes diferente do livro, é bem fiel ao enredo original, conseguindo passar com bastante honestidade o sentimento expressado pela escrita de Burgess.

A história de “Laranja Mecânica”, tanto no livro quanto no filme, é narrada em primeira pessoa pelo protagonista e anti-herói Alex de 15 anos de idade. Admirador de música clássica, principalmente Ludwig van Beethoven, Alex relata sua trajetória como líder de uma gangue de delinquentes que roubam, estupram e assassinam, até o cume de sua prisão e participação (como cobaia) num experimento chamado “Tratamento Ludovico”, criado pelo governo com o intuito de refrear os impulsos destrutivos dos delinquentes.

O Sepultura trouxe um trabalho pesado e cadenciado, dividindo o mesmo em quatro capítulos (de ‘Alex I’ a ‘Alex IV’) todas com uma breve introdução climática. Os três primeiros falam do enredo conhecido na adaptação de Kubrick, já o quarto (e último) apresenta um desfecho que não foi mostrado no filme, onde Alex retorna à sociedade, reencontra seus velhos amigos, casa-se e começa uma família segundo sua própria escolha e vontade, contrariando o que o governo tinha estabelecido através do “Tratamento Ludovico”.
O grupo conseguiu com muita maestria colocar o ouvinte dentro da obra de Burgess, usando para isso elementos típicos do livro, como por exemplo a inclusão do dialeto “Nadsat” criado por Burgess e usado por Alex e seus comparsas durante toda sua jornada. Um exemplo é a faixa “Moloko Mesto” (lugar do leite), Moloko é uma bebida feita de leite e entorpecentes que era usado como combustível para o desejo de violência dos Druguis (amigos).

No filme Alex se mostra admirador de Ludwig Van Beethoven, Já no livro, o protagonista ama música clássica e erudita num geral, inclusive dedicando paixão por Mozart e Bach. Anthony Burgess também era compositor, portanto sabia muito bem expressar o que sentia diante de músicas complexas, essa sensibilidade pode ser notada em uma de suas composições chamada “Blooms of Dublin”.

A parte musical existente na trama também foi retratada com bastante capricho pelo Sepultura em seu disco. A faixa “Ludwig Van” tem como base a Sinfonia nº 9 de Beethoven, misturando o som da orquestra com o peso típico da banda, representando (mesmo que sem intenção) um trecho mediúnico e visionário do livro, onde Alex, num momento de êxtase musical, em meio ao concerto para violino do American Geoffrey Plautus, praticamente dá origem ao termo “Heavy Metal”:
 “Ah, era a maravilha das maravilhas. E então, um pássaro feito do mais raro HEAVENMETAL, ou tipo assim vinho prateado fluindo numa espaçonave – a gravidade agora não fazia o menor sentido – veio o solo de violino acima de todas as outras cordas, e essas cordas eram como uma gaiola de seda ao redor da minha cama.” (Burgess, Anthony. Laranja Mecânica pg.35)

O Sepultura, assim como Kubrick, conseguiu trazer para seu trabalho o clima pesado e crítico do livro, onde momentos filosóficos são apresentados junto a uma brutalidade ríspida e crua. A ideia simbólica da “Laranja Mecânica”, que tem a aparência de um organismo adorável, com cor e suco, mas que na realidade é um brinquedo mecânico para ser manipulado para o bem ou para o mal, foi muito bem retratado através das 18 faixas de A-lex.
A exemplo do filme, onde Kubrick (mesmo que de improviso) compôs a famosa cena do estupro, onde Alex canta e dança “Singin’ in the Rain”, o Sepultura trouxe para seu trabalho uma ideia criativa e diferenciada em relação ao título do disco, fazendo um trocadilho com o nome de Alex, separando o “A” do “Lex” para formar a frase em latim “Sem Lei”.

Se nunca leu, assistiu ou ouviu falar de “Laranja Mecânica”, corra atrás desta obra e use como trilha sonora o A-Lex do Sepultura, pois o álbum conseguiu transmitir com bastante expressividade a ideia principal do livro, onde cada indivíduo deve ser livre dentro si, e dono de sua própria vontade e escolha, pois vale muito mais a pena ser “mau” por escolha, do que “bonzinho” por obrigação.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Resenha: DVD Roadie Metal – Volume 1 (2017)


Em 1950 Nora Ney grava a canção “Rock Around the Clock”, de Bill Haley & His Comets (trilha do filme Sementes da Violência), sendo a mesma considerada a primeira música de Rock a ser gravada aqui no Brasil.
A primeira canção Rock 100 % brasileira foi composta por “Miguel Gustavo” (autor da marchinha “Pra Frente Brasil”, que embalou a seleção de futebol na Copa de 1970) e foi gravada por ninguém menos que Cauby Peixoto, “Rock and Roll em Copacabana”.
Em 1982, trinta e dois anos depois do primeiro Rock gravado no país, o “Stress” (banda de heavy metal tradicional da região amazônica de Belém-PA) lança o primeiro disco de Heavy Metal Brasileiro, o clássico “Stress I”. De lá pra cá, várias momentos de pioneirismo envolvendo o Heavy Metal nacional fez parte da história do estilo no país, transformando o mesmo em algo grandioso.
Quando se imaginava que nada de inovador poderia surgir, eis que Gleison Júnior (idealizador do programa de rádio e assessoria de imprensa Roadie Metal) tem uma simples, porém inédita ideia, lançar uma coletânea em DVD reunindo videoclipes de diversas bandas de Metal Brasileira, proposta nunca antes executada no país.
Com um nome já consolidado através do programa “Roadie Metal a voz do Rock” e das coletâneas físicas distribuídas gratuitamente para todo o Brasil (que já alcançou nove edições), a Roadie Metal decide então juntar 32 bandas de nosso vasto cenário nacional para participar da inédita coletânea Roadie Metal em DVD.
A obra áudio visual vem numa belíssima caixa digipack que traz uma expressiva arte composta por Marcelo Nespoli. Dentro encontramos dois DVD’s mais um luxuoso e detalhado encarte especificando cada clip existente no trabalho, como formação, breve histórico da banda, foto, capa do disco, letra da música, conceito visual, dados técnicos do clipe e contatos.
Ao dar play no DVD encontramos no primeiro disco bandas mais extremas, como Thrash, Death, Black. Já no segundo uma gama de bandas de Heavy Metal tradicional, Hard Rock e Progressivo são destacadas.
Disco 01:
VOODOOPRIEST
Abrindo o trabalho temos a “Voodoopriest”, banda de Vitor Rodrigues (ex-Torture Squad) que traz o clip da faixa “Juggernaut”. O vídeo reproduz imagens do show de estreia do grupo em são Paulo.
Destaque: cortes muito bem executados que dá a impressão de estarmos realmente no show.
TELLUS TERROR
Os criadores do M.M.S. (Mixed Metal Styles) “Tellus Terror” presenteia os ouvintes com um clip muito bem produzido e criativo. “Blood Vision” é repleto de efeitos especiais mostrando com bastante expressividade a característica e capricho da banda.
Destaque: Roteiro e produção
DEATH CHAOS
Com um ar psicopata, o clip “House of Madness” da “Death Chaos” porta- se como um terror clássico e psicológico, muito disso devido ao enredo que descreve uma família de assassinos.
Aos três minutos e 53 segundos, a faixa traz sussurros na letra, dando a interpretação um clima doentio. Com certeza o trecho agradaria e muito à Sawney Bean e sua família canibal.
Destaque: devido à ausência de efeitos especiais, o vídeo seguiu um padrão antigo de se filmar terror, dando ao clip um ar clássico.
KRUCIPHA
Com um clima agoniante, a “Krucipha” viola os mandamentos com uma percussão muito criativa, dando a faixa “Reason Lost” um toque surpreendente.
O vídeo traz uma mulher numa cela tendo alucinações, e a banda faz parte dessas alucinações.
Destaque: o destaque fica por conta do desfecho do vídeo que mostra que a situação da mulher não é tão agoniante e real quanto parece.
DIVISION HELL
Simples e direto o clip de “Bleeding Hate” da “Division Hell” traz a banda tocando em meio a escombros e matagal.
Destaque: um ponto que chama a atenção são as chamas que vez por outra aparece diante dos músicos dando ao vídeo um ar visceral.
TRIBAL
Com muita modernidade e técnica a banda “Tribal” trouxe para a coletânea o clip “Broken” que imersa em densidade traz um toque progressivo ao DVD.
Destaque: a banda toca num fundo preto, o que dá as montagens uma ar mais cru, já que takes com sangue e algumas seringas compoem o clima denso do vídeo.
NO TRAUMA
A praça pública XV, zona portuária do Rio de Janeiro foi o cenário escolhido pelos cariocas do “No Trauma” para a gravação do clip “Fuga”. O cenário junto a mescla de Metalcore, Hardcore, Djent e Groove Metal dão ao vídeo uma pegada urbana e violenta.
Destaque: interação das pessoas na praça com a banda.
CORE DIVIDER
Com uma letra que faz claras críticas a guerra, o clip “No War” da “Core Divider” mostra um personagem, interpretado pelo vocalista Jorge Mohamed, amarrado à beira da loucura devido a guerra, seus olhos totalmente brancos fazem referência a cegueira da população.
Destaque: conceito e iluminação.
MONSTRACTOR
A “Monstractor” com seu excelente Thrash Metal trouxe para a coletânea o vídeo “Immortal Blood”. Gravado no escuro com iluminação apenas no rosto dos músicos, o clip é bastante visceral e agressivo.
Destaque: tremida da câmera junto ao peso dos riffs.
VORGOK
A “Vorgok” o com clip “Hunger” traz uma de suas melhores letras. O vídeo em preto e branco trata do direito dos povos do terceiro mundo a segurança alimentar, e foi baseada no “FAO Statistical Yearbook 2013 – World food and agriculture”.
Destaque: sutilmente são colocados efeitos sobre o vídeo da banda tocando no estúdio, tipo uma layer de distorção.
HEAVENLESS
Também em preto e branco o clip “Hatred” da banda “Heavenless” traz imagens, tanto em vídeo quanto em fotos, de vários núcleos religiosos e suas contribuições negativas para sociedade, como imposição, doutrinação, fanatismo e corrupção.
Destaque: cortes e escolha das imagens na montagem.
MATRICIDIUM
Com um Death/Thrash recheado de cadencia e um baixo inspirado, a “Matricium” apresenta o clip “The Beating Never Stops”. Assim como sugere o nome da faixa, o clipe mescla imagens da banda tocando junto a um espancamento.
Destaque: maquiagem e os efeitos de flash sobre a banda.
FORKILL
Gravado inteiramente ao vivo, o vídeo “Vendetta” traz toda a pegada característica da banda, um Thrash Metal oitentista e muito bem executado.
Destaque: cortes e execução.
NINETIETH STORM
O clip “Death Before Dishonor” é um dos que mais gostei do gênero no dvd. A mistura de Deathcore e Metalcore junto a uma crueza digna de estilos como o Hardcore são executados com bastante frieza pela “Ninetieth Storm”. O clip é composto de vídeos de guerra e ataques, a própria banda parece estar tocando num acampamento militar, com lonas pretas envolta dos músicos. A faixa é uma homenagem aos três soldados Brasileiros mortos na segunda guerra mundial, Arlindo Lúcio da Silva, Geraldo Baeta da Cruz e Geraldo Rodrigues de Souza.
Uma curiosidade da faixa é o áudio do personagem “Raiden” do jogo “Mortal Kombat” dando seu golpe “HAGEEBABARAYYYY”.
Destaque: efeitos de VHS e o entrosamento entre os vídeos de guerra e a música.
USINA
Narrando a falência do sistema carcerário nacional, a banda “Usina” com o clip “Destruição e morte” traz um Thrash Metal bruto e muito bem executado.
Destaque: a máscara de efeito foi tão bem colocada que parece que as cenas reais dos presídios foram filmados pela mesma câmera.
CURSED COMMENT
Gravado ao vivo, o clipe “Luftwaffe” (que foi o ramo aéreo da Wehrmacht durante a Alemanha Nazista na segunda guerra mundial) tem uma letra muito bem construída e uma pegada “Thrash Metal” digna de grandes bandas.
Destaque: legenda com a tradução da música.
Disco 2:
ELEPHANT CASINO
“Believe” da “Elephant Casino” abre o segundo DVD com muito capricho. O Hard Rock com pinceladas de Progressivo proposto pela banda enche a tela com um clipe muito bem produzido.
Destaque: efeitos muito bem colocados junto a takes criativos.
SUPERSONIC BREWER
Com influências de Country e Southern Rock, a banda de Heavy/Thrash “Supersonic Brewer” com o clipe “Blood Washed Hands” surpreende e traz um vídeo no formato acústico.
Destaque: o grupo conseguiu unir com perfeição o clima técnico do estúdio junto as cenas do sertão sem parecer clichê.
DEMONS INSIDE
O vídeo “Remorse, Effect Of Traumas… Remains” da “Demons Inside” é repleto por uma aura melancólica e pesada, atributos que transformam seu Heavy/Speed Metal em algo diferenciado.
Destaque: efeito de aceleração no ator muito bem executado junto ao bpm da música.
JÄILBÄIT
A Jäilbäit (atual PRISON BÄIT) com o clipe “Take it easy” apresenta um excelente e criativo vídeo que mostra a pressão, stress e empecilhos do cotidiano de uma mulher.
Destaque: jogo do São Paulo no local de trabalho da personagem principal (brincadeira rs), montagens e roteiro.
APPLE SIN
O vídeo autointitulado da “Apple Sin” traz em seu enredo uma metáfora referente às tentações e o peso na consciência que acabam influenciando nossas vidas diárias. Musicalmente gostaria de destacar o baixo de Raul Ganso que construiu uma marcante linha muito similar (porém longe de ser cópia) a canção Countdown to Extinction do Megadeth.
Destaque: efeito especiais e roteiro.
CERVICAL
O clipe de “Arquétipo” da “Cervical” também foi produzido no formato ao “vivo” é devido a isso traz muita energia e um Thrash/Crossover executado com muita maturidade.
Destaque: cortes e montagens.
GALO AZHUU
O “Galo Azhuu” com uma pegada pesada e setentista compôs um clipe, digamos, pagão para a faixa “Bruxa”. O vídeos tem uma pegada mística que traz a amarra entre a feminilidade da terra com as energias transcendentais.
Destaque: roteiro e os ótimos takes noturnos.
EXORDDIUM
Cantando em português, o grupo “Exorddium” faz uma homenagem (sem frescura) ao nosso amado Heavy Metal.
Destaque: cortes e efeitos que acontecem em um corredor com o vocalista ao centro.
MAGNÉTICA
Com um Rock’n’roll empolgante a “Magnética” trouxe um carismático clipe para a faixa “Super Aquecendo”.
Destaque: cortes e captação das imagens.
BASTTARDOS
É indiscutível a qualidade técnica e autoral da “Basttardos”, a banda é sem dúvidas uma das mais expressivas do estilo no país, uma prova disso é o clipe que o “bando” trouxe para a coletânea Roadie Metal em DVD. O vídeo de “Despertar do Parto” traz um enredo que retrata o nascimento do filho de Alex Campos (vocal e guitarra), a faixa faz um contraponto entre a emoção de ser pai e o amor que o vocalista sente pelo próprio pai, a música é uma excelente homenagem as geração paternas de uma família.
Destaque: roteiro, cortes e efeitos.
HELLMOTZ
Com muito cuidado aos detalhes, o grupo “Hellmotz” com seu Heavy/Thrash compôs um ótimo clipe para a faixa “Wielding The Axe”. O vídeo traz um bom uso dos efeitos de camadas e também na capitação das imagens, muitas delas se enquadrando na regra dos terços.
Destaque: iluminação, captação das imagens e enquadramento.
BURNKILL
Criticando a política brasileira, a “Burnkill” com o clipe “Cadáver do Brasil” trouxe junto a seu   Thrash/Death Metal cantado em português imagens de manifestações populares.
Destaque: escolha das imagens de manifestação e efeitos.
FALLEN IDOL
A “Fallen Idol” é uma das gratas revelações do Metal nacional, especificamente do Doom Metal nacional. O clipe “The Boy And The Sea” apresentado pelo grupo, narra a complicada situação dos refugiados que arriscam a própria vida para fugir da guerra no Oriente Médio.
Destaque: efeito “marca d’agua” entre os refugiados e a banda alem da legenda com a letra.
THE PHANTOMS OF THE MIDNIGHT
O Gothic Metal está presente na coletânea através da banda “Phantons of the Midnight” com o clipe “Nightmare”. O vídeo traz uma dualidade muito expressiva entre preto e branco que salta ao olhos.
Destaque: efeito “marca d’agua” de uma casa assombrada sobre os músicos.
DUST COMMANDO
Com seu Stoner Metal a banda “Dust Commando” mostra um som pesado e climático. O clipe “P.O.T.U.S.” mostra com bastante ênfase a proposta criativa da banda.
Destaque: gráfico e efeito “marca d’agua”.
RAZORBLADE
O clipe “Cuts Like A Razor” da “Razorblade” foi o responsável por fechar a primeira coletânea em DVD da história do metal nacional. Com um ar oitentista, a banda conseguiu através de pinceladas, digamos, engraçadas (com cenas dos músicos no banheiro e ventiladores para dar efeito de vento no cabelo do guitarrista) trazer um clima bem peculiar e característico para o vídeo.
Destaque: tonalidade da imagem que passou com bastante fidelidade o clima oitentista.
A coletânea em DVD da Roadie Metal além de ser pioneira conseguiu provar que o Metal em todas as suas vertentes continua forte aqui em terras tupiniquins. Bandas dignas de respeito e cobertas pelo manto da criatividade se multiplicam Brasil afora, mostrando que esse estilo que tanto amamos JAMAIS ira morrer, principalmente se ideias impares como as de Gleison Junior continuarem fazendo parte da trajetória do estilo no pais!
Extremamente recomendado!!