quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

PMRC: quando o Rock foi censurado



O Rock/Metal sempre foi alvo de falsos moralistas, conservadores e grupos que julgam sem entender o que o “estilo” propõe. Prova disso são as inúmeras tentativas de proibição e censura que o mesmo recebeu desde sua popularização. São vários os casos, o mais notório veio dos Estados Unidos na metade dos anos 80, onde um grupo chamado PMRC formado por esposas de influentes políticos de Washington tentaram censurar o Rock/Metal causando um grande alvoroço no meio musical.
Tiper Gore, esposa do então senador Al Gore, começou a julgar “vulgar” e “indecente” algumas letras de Rock e Heavy Metal afirmando que muitas delas eram má influência para os jovens. Sendo assim, tratou de juntar suas amigas (mulheres com maridos em cargos importantes como por exemplo o secretário do tesouro e o presidente do conselho civil de Washington), para a criação de uma frente de combate chamada “PMRC” (Parents Music Resource Center). O grupo tinha como objetivo alertar e informar o público sobre as letras sexualmente explicitas, violência e incitação ao uso de drogas existente em várias músicas de Rock/Metal.
A PMRC afirmava que o aumento de estupros e suicídios era devido ao Rock, o argumento baseava –se na estreita distância entre as letras e esses acontecimentos. Para provar sua “teoria” usaram de exemplo as músicas “Suicide Solution” de Ozzy Osbourne, “Don’t Fear The Reaper” do Blue Öyster Cult e “Shoot To Thrill” do AC/DC.
A má interpretação de texto e principalmente a falta de apego a uma cultura diferente da sua, fez com que a PMRC julgasse tais músicas erroneamente.”Suicide Solution” por exemplo não faz incitação ao suicídio. A canção na verdade foi escrita em homenagem a Bon Scott que morreu pelo exagero na bebida, no caso a “solução” citada na faixa era uma representação do álcool, que no caso é uma solução líquida. Como sabemos, o Rock/Metal é cheio de metáforas e isso acabou “embaralhado” a mente dos membros da PMRC.

A primeira medida tomada pelo comitê foi enviar uma carta oficial à RIAA (Recording Industry Association of America), com a assinatura de vinte esposas de políticos influentes. A carta pedia para que a indústria musical desenvolvesse um método de avaliação moral das músicas. A RIAA foi totalmente contra esse procedimento fazendo com que a PMRC buscasse ajuda na mídia. Sendo assim, o grupo publicou no Washington Post uma lista com seis exigências de Tipper Gore e Susan Baker, são elas:
1 – Imprimir letras nas capas dos álbuns;
2 – Manter capas explícitas embaixo das prateleiras;
3 – Estabelecer um sistema de classificação similar as dos filmes;
4 – Estabelecer um sistema de classificação para vídeos;
5 – Reavaliar o contrato de músicos que empregam violência e conteúdo sexual explícito nos palcos;
6 – Estabelecer uma vigilância da mídia por cidadãos e gravadoras, que pressionaria os meios radio difusores a não levar ao ar “talentos-questionáveis”.
O resultado foi a exclusão de discos de Rock/Metal das lojas, além de boicotes em revistas especializadas, um absurdo que fez com que em agosto de 1985 algumas gravadoras (19 num todo) aceitassem colocar nos álbuns o adesivo “Parental Advisory: Explicity Lyrics” (Aviso aos pais, letras explícitas). Neste meio tempo, o senado concordou em realizar uma audiência pra ouvir ambas as partes, foi então que em nome da liberdade artística os músicos Frank Zappa, John Denver e Dee Snider (vocalista do Twisted Sister) puderam se defender dos ataques da PMRC.

Durante a audiência, uma parcela maior da sociedade pôde conhecer os músicos que até então julgavam ser burros e devassos. Ao contrário do que pensavam, nenhum deles eram cordeiros prontos para serem abatidos, mais sim lobos devoradores de ignorantes. Vou deixara abaixo um trecho da defesa de Dee Snider, do Twisted Sister:
“A Sra. Gore disse que uma de minhas músicas, ‘Under The Blade’, encoraja ao sadomasoquismo, servidão e estupro. As letras que ela citou não têm absolutamente nada relacionado com estes assuntos. Ao contrário, as letras em questão são sobre cirurgia e o medo que ela causa nas pessoas. Como o criador de ‘Under The Blade’, eu posso dizer categoricamente que… o único sadomasoquismo, servidão e estupro nesta música estão na cabeça da Sra. Gore.”
 -A respeito da acusação de garotos usarem camisetas do Twisted Sister com desenhos de mulheres algemadas em posições de sadomasoquismo:
“Isso é uma mentira completa. Nós não apenas nunca vendemos uma camiseta desse tipo; nós temos sempre levados grandes dores para nos mantermos limpos de sexismo em nosso merchandising, álbuns, palcos, show e vida pessoal. Além disso, nós temos sempre promovido a crença de que o Rock ‘n’ Roll não deveria ser sexista, mas deveria satisfazer a homens e mulher igualmente.
“Eu sinto que uma acusação desse tipo é irresponsável, danosa à nossa reputação, e caluniosa. Eu desafio a Sra. Gore a produzir tal camiseta para dar razão à sua crítica. Eu estou cansado de encontrar garotos na rua que me dizem que não podem tocar nossos álbuns mais por causa das informações enganosas têm sido fornecidas a seus pais pela PMRC na TV e nos jornais.
“A beleza da literatura, poesia, e música é que eles deixam espaço para sua audiência colocar sua própria imaginação, experiências, e sonhos em palavras. Os exemplos que eu citei antes mostraram clara evidência da música do Twisted Sister sendo mal interpretada e injustamente julgada por adultos supostamente bem informados. ”

Em 1º de novembro de 1985, antes de a audiência acabar, a RIAA aceitou colocar o adesivo “Parental Advisory: Explicit Lyrics” nos álbuns. Os rótulos eram genéricos, diferentemente da ideia original de se colocar um rótulo para cada tipo de letra explícita.
Com o passar do tempo esses adesivos apelidados de “Tipper Sticker” (adesivo Tipper) foram acabando e perdendo o seu valor inicial.
Confira a famosa lista “Filthy Fifteen” (“Quinze Asquerosas”), divulgada pela PMRC:

A PMRC advogou também contra as supostas backmasking subliminar (mensagens subliminares) nas gravações, dentre as bandas acusadas temos Led Zeppelin, Rush, Pink Floyd e Queen. O comitê afirmava que as bandas usavam das backmasking subliminar para promover o satanismo e uso das drogas.