sábado, 6 de agosto de 2016

Iron Maiden: Análise temática do álbum “The Book of Souls” – Parte 1



Lançado em 4 de setembro de 2015, The Book of Souls deu ao Iron Maiden o primeiro lugar nas paradas inglesas e em mais 23 países, incluindo o Brasil.
O disco que foi lançado em formato duplo, tem como base a temática Maia, trazendo inclusive um Eddie totalmente sombrio com características claras aos habitantes da civilização mesoamericana pré-colombiana, porém, o álbum não é conceitual, arrastando em sua linha gramatical temas adversos.
The Book of Souls, a meu ver, é o melhor álbum lançado pela Donzela desde Brave new world, portando-se grandioso junto a discos clássicos como Powerslave e The Number Of The Beast. Então aqui, no cargo de sommelier, harmonizarei a vocês enófilos, o tema de todas as faixas desta insana obra de arte.
 If Eternity Should Fail
O disco abre com uma das melhores composições já gravado pelo Iron Maiden, “If Eternity Should Fail” é simplesmente espetacular, a faixa que começa com uma expressiva narração de Bruce Dickinson, fala sobre o personagem fictício “Dr. Necropolis”, que aparentemente consegue roubar a alma dos homens.
A música cita a criação do mundo até a origem da raça humana, descreve também a pureza da alma e como somos estranhos crédulos. No refrão, temos uma criativa referência a aceleração do curso natural da humanidade, visto que rizamos a vela de nosso barco (vida), no limite do mundo. A palavra “Reef in” (Rizar), cantada no refrão, é uma técnica náutica que consiste em reduzir o tamanho da vela quando o vento está forte, o rizar aumenta a performance e velocidade do barco.

De forma peculiar, “If Eternity Should Fail” abre vários questionamentos em relação a religião e a humanidade, todos em contraponto com a alma, fazendo inclusive uma analogia entre a queda de lúcifer que brilha abaixo de Deus, e a queda da própria humanidade figurada através Adão e Eva.
A canção, que inicialmente foi composta para um disco solo de Bruce Dickinson, traz ainda uma pragmática referência ao tema principal do disco, logo no início da canção, a letra menciona o Xamã, este que em vários povos indígenas, incluindo claro os Maias, era um tipo de sacerdote que através de um ritual podia entrar em contado com os espíritos.

Speed of Light
A segunda faixa do álbum, que aliás foi o primeiro single de “The Book of Souls”, carrega a soma de 299.792.458 metros por segundo, “Speed of Light” esbanja vontade e trechos que podem ser interessantes aos amantes da física, assim como eu.
A velocidade da luz (Speed of Light), que é representada pela letra C de “constante” ou “Celeritas” (palavra do latim que significa “rapidez”), foi medida pela primeira vez no século 16 pelo astrônomo dinamarquês Olaf Roemer (1644-1710). Com a velocidade da luz comprovada, sabemos hoje que o que vemos a um milhão de anos-luz é a imagem do que havia um milhão de anos atrás.
Musicalmente falando a faixa é excelente, uma guitarra crua junto a um grito visceral de Bruce Dickinson dão boas-vindas ao marcante canto que se desdobra em excitantes momentos. A letra conta de forma simbólica a “corrida humana”, e para resenhar essa simbologia, a banda usa pontos científicos, como por exemplo a “Teoria das cordas” defendida por Stephen Hawking, que entre várias coisas prediz o número de dimensões que o universo deve possuir, a teoria das cordas permite calcular o número de dimensões espaço-temporais a partir de seus princípios fundamentais.
Claramente a canção narra uma viagem espacial, e em vários trechos cita representativamente os buracos negros, nos fazendo pensar que esta viagem seja atemporal. Segundo a teoria da relatividade geral de Albert Einstein, o buraco negro é um ponto do espaço no qual, nada, nem mesmo partículas que se movimentam na velocidade da luz podem escapar. Os buracos negros são resultados das deformações do espaço-tempo, causados após o colapso gravitacional de uma estrela.

“Speed of Light” também foi o primeiro (e até agora único), clip feito para “The Book of souls”. O interessante é que o vídeo, feito totalmente em computação gráfica, faz uma homenagem aos jogos de videogame.
Saiba mais sobre o clip no link abaixo:
The Great Unknown
Com um instrumental introdutório pra lá de introspectivo, onde o baixo executa uma única nota fazendo uma cama climática para o inspirado dedilhado de guitarra, “The Great Unknown” resenha um ar metafórico em relação a humanidade.
Egoísmo, dor, vingança, cobiça e violência são descritos com muita sutileza e criatividade na faixa, inclusive permeando alguns trechos a versículos bíblicos. “The Great Unknown” tem como base mostrar que o ódio de nossa humanidade acabara por fim dando cabo na mesma.
The Red and the Black
Arrisco em dizer que esta música seja, em parte claro, uma continuação da faixa “The Angel & The Gambler” lançado em 1998 no disco Virtual XI, já que em “The Red And The Black” temos mais uma vez o tema proposto em 1998, onde a máxima gira em torno de jogos de azar, especificamente jogos com cartas.
Apesar da música ser ambígua, claramente percebemos que Harris quis representar a vida como sendo um jogo, neste caso um jogo de cartas, demostradas aqui através de dois naipes de baralho, Rainha de Copas (the red) e Rei de Paus (the black).
Musicalmente a faixa é estupenda, com grandiosos 13:33 minutos, a canção se inicia com um “solo” de baixo no tom de “mi” (E), com claras inspirações espanholas, desdobrando-se num excelente riff. O canto vem sempre acompanhado por uma guitarra que executa as mesmas melodias expressadas por Bruce, que aliás faz um ótimo trabalho transformando a faixa numa das melhores do álbum.
Um fato interessante a se ressaltar em “The Red And The Black” é que o nome da faixa também foi usada pelo escritor francês Henri-Marie Beyleno em seu livro “Le Rouge et le Noir” (O Vermelho e o Negro), de 1830. O livro que é dividido em duas partes, porta-se como um romance histórico psicológico, que narra a sociedade francesa no tempo da Restauração antes da Revolução de 1830, supostamente entre 1826 e 1830.
O interessante é que o personagem central do livro, Julien, passa por momentos de angústia, traição, hipocrisia, amor e morte, pontos estes também encontrados na letra de Steve Harris. Vários outros momentos permeiam aos acontecimentos do livro, porem nada tão concreto, visto que o texto do baixista abre caminho a várias interpretações.
When the River Runs Deep
Em “When the River Runs Deep” temos uma ótima analogia em relação a morte, aqui de uma forma metafórica, a letra trata nossa vida com um rio, este que pode ser raso em certos pontos e profundo em outros, conturbados em certos momentos, porem brandos em vários outros, além do que, o rio sempre corre rumo ao mar (morte).
É interessante quando analisamos a letra por esta ótica, já que o texto traz sufocantes questionamentos em relação a erros que nos leva, de uma forma ou de outra, a um fatídico afogamento de nossa vida. Não há tempo para chorar quando alguns de nós estão morrendo, principalmente quando o rio que corre profundo em nos, está cada vez mais próximo ao mar de nossa existência.
The Book of Souls
Sem dúvida nenhuma “The Book of Souls” é uma das melhores composições do ano. Com um violão climático e um riff fenomenal, a faixa descreve em vários momentos fatos históricos sobre a civilização Maia.
A civilização Maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, que teve na escrita e língua grande notoriedade. O sistema de escrita Maia era uma combinação de símbolos fonéticos e ideogramas, chamados de Hieróglifos.

Os Maias tinham como base econômica a agricultura, principalmente do milho, no qual dispunha de três tipos deles, porém contavam também com o algodão, tomate, cacau, batata e frutas.
Sua organização na agricultura só não era mais notável que seu sistema matemático, tanto que Produziram observações astronômicas amedrontadoramente precisas; seus diagramas relacionados aos movimentos da Lua e dos planetas, são iguais ou mesmo superiores aos de qualquer outra civilização que tenha como apoio instrumentos óticos. Tal matemática superior, dava aos Maias um poder de prever eclipses solares, lunares e até mesmo mudanças no ciclo do sol, transformando seus calendários em verdadeiras “pedras de prever o futuro”.

Logo no início da canção, a letra relata um sacrifício (Sacrifices buried with kings). Quando um Rei, Rainha ou mesmo um Sacerdote morria, os Maias sacrificavam uma pessoa próxima do falecido, podendo ele ser um membro da família ou um amigo querido, o objetivo era que o sacrificado ajudasse o Rei, Rainha ou Sacerdote a entrar no mundo espiritual. Geralmente eram sacrificados pequenos animais para oferecer aos Deuses, porém, quando algo fora do comum ocorria, entregavam então sacrifícios humanos, e acreditem, muitos desses sacrifícios eram de crianças, isso porque pregavam que as almas dos pequeninos eram puras.