quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Iron Maiden: nado sincronizado ao som de “The Trooper”


É inegável que o Iron Maiden se protagoniza entre uma das bandas mais populares do mundo, tanto que sua arte sempre acaba influenciando outros gêneros artísticos. Prova disso foi a recente apresentação da dupla eslovaca Jana Labáthová e Nada Daabousova na disputa dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro.
As competidoras de nado sincronizado usaram como trilha para sua coreografia uma versão do clássico “The Trooper” gravada pelos violoncelistas esloveno-croatas, Luka Šulić e Stjepan Hauser. A dupla em questão compõem um grupo de Cello Rock chamado 2Cellos, que ficou bastante conhecido por uma releitura muito empolgante de “Thunderstruck”, do AC/DC, que já tem mais de 63 milhões de views no seu canal do YouTube.
A apresentação das eslovacas foi muito empolgante e aconteceu no início das competições de nado sincronizado dos Jogos Olímpicos. 
Ouça na íntegra a versão de “The Trooper” gravada pela dupla do 2Cellos:
Vale lembrar que essa não é a primeira vez que o Rock deu as caras nesta modalidade. Em 2009, na Olimpíada Mundial de Jogos Aquáticos, a Espanha se apresentou ao som de “Stairway To Heaven”, do Led Zeppelin:

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Black Sabbath: conheça o filme que deu origem ao nome da banda


Segundo o dicionário Webster 1828, a palavra “nome” significa a reputação de alguém, o carácter, autoridade e uma pessoa. Desde tempos remotos, damos nomes às coisas. Damos nomes para representar algo e também para descrever algo. O ato de nomear, seja objetos ou pessoas, está ligado diretamente à nossa evolução, já que de forma inteligente e única, conseguimos descrever através de palavras a representação daquilo que vemos, tocamos e até sentimos.
O nome não é uma peça importante somente na certidão de nascimento, mas também em todo meio de comércio e propaganda, tanto que empresas travam longas batalhas judicias para defender a patente de sua marca. No mundo da música não é diferente: a escolha do nome e de extrema importância na criação de uma banda, já que ele transcende a marca em si, pois também acaba direcionando a temática e o estilo que a banda vai seguir.
Em 1966, os músicos Ozzy Osbourne (ex-Rare Breed), Bill Ward (ex-Mithology), Geezer Butler (ex-Rare Breed), Tony Iommi (ex-Mithology) e Jimmy Phillips deram início a um projeto chamado “Polka Tulk Blues Band”, que posteriormente contou também com o saxofonista Alan “Aker” Clarke. Após algumas apresentações, Clarke e Phillips decidem sair do grupo, foi então que os membros remanescentes decidem trocar o nome da banda para Earth.

Durante um curto período tempo, o Earth desbravou pubs e casas de shows variados, até que descobriram que outra banda se apresentava com o mesmo nome, sendo assim, optam por mais uma mudança, e a escolha desta vez ficou com o epíteto Black Sabbath.
A ideia partiu de Butler. O baixista se inspirou no filme italiano “I Tre Volti Della Paura” (As Três Máscaras do Terror). O filme dirigido por Mario Bava lançado em 17 de agosto de 1963 traz um horror clássico de primeira linha, e contém três contos:
“The Telephone” (O Telefone), “The Wurdalak” (O Wurdalak), e “The Drop of Water” (O Pingo D’água), todos baseados nos textos dos escritores Aleksei Tolstoy, Ivan Chekhov e F.G. Snyder.
Em “O Telefone”, uma garota de programa é atormentada por ameaças de um ex-amante que fugiu da prisão. A trama envolve assassinatos toscamente consumados por estrangulamento com uso de meias calças, além da clássica e boa faca escondida debaixo do travesseiro.

Já em “O Wurdalak”, uma família aguarda o retorno do patriarca. O problema é que ele foi contaminado por um vampiro. A história se passa no interior da Rússia e mostra o terror da família que tenta livrar-se do conde do século XIX.

Pra finalizar, “O Pingo D’água” traz o espírito de uma condessa que volta do além para cobrar um anel que lhe foi roubado nos preparativos de seu funeral.

O filme, que é apresentado e estrelado pelo lendário Boris Karloff, foi exibido nos EUA e Inglaterra com o nome de Black Sabbath. Quando a banda caminhava pelas ruas de Hamburgo, notaram que um cinema local estava com uma fila enorme. Ao descobrirem o nome do filme, Geezer Butler de pronto propôs usar o título da película para nomear o grupo.

A palavra “Sabbath” (sábado) tem algumas simbologias diferentes. No geral, ela representa um dia semanal de descanso e adoração a uma divindade. Muitas religiões adotaram o conceito e o praticam de acordo com suas cresças. A tradição judaico-cristã, por exemplo, usa o termo para designar o último dos dias da criação, no qual Deus descansou. Na bruxaria, o Sabbath é um momento de comunhão religiosa, onde se pratica através de uma celebração a comunicação com seres espirituais. Existem oito Sabbaths celebrados a cada ano pelos bruxos, no qual os quatro principais são o Imbolc (Candlemas), o Beltane, o Lammas (Lughnassad) e o Samhain.




quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Resenha: Basttardos – O Último Expresso (2015)


No século XIX, precisamente entre os anos de 1860 a 1890, durante a expansão da fronteira dos Estados Unidos para a costa do Oceano Pacífico, vários acontecimentos e lendas cercaram este período que ficou conhecido popularmente como FAROESTE. Entres os personagens históricos desta época temos os famosos “Touro Sentado” e “William Cody”, o famoso Buffalo Bill.
A riqueza artística figurada neste oeste selvagem, foi amplamente explorado por filmes, livros e até mesmo Gibis, transformando o período num dos mais populares.
Formado em 2010, a banda Basttardos do rio de Janeiro escolheu como base fotográfica e musical este clima típico. O grupo lançou em dezembro de 2015 o petardo “western”, O Último Expresso, o álbum em questão traz uma produção excelente, e músicas bem compostas, todas polidas com técnica e sentimento.

O álbum abre com a viciante BASTTARDOS. Com uma introdução digna dos filmes de Django, a música é uma apresentação da banda, que de forma criativa, faz uma analogia entre o grupo e o faroeste. A faixa traz de forma peculiar alguns questionamentos relevantes, como por exemplo nas frases do refrão:
“Sem medo de ter medo, o legado importa mais (…) “Procurados”, como cowboys fora da lei”
A questão do medo a muito é estudada por diversos professores em torno do globo, aliás, existe um livro chamado “SEM MEDO DE TER MEDO”, escrito por TITO PAES DE BARROS NETO que trata de forma contundente esse assunto. Outro ponto a ser mencionado, é o fato dos “fora da lei”. Nicolau Maquiavel, dizia que nunca faltará ao príncipe razões legítimas para burlar a lei, e que, é mais seguro ser temido do que amado, desta forma, creio que os temidos cowboys adversos as leis do velho oeste, corroboram ideologicamente (em parte claro), com o pensamento do historiador, poeta, diplomata e músico italiano.
As frases finais da música, “para viver fora da lei, é preciso ser honesto”, junto a máxima do álbum “o legado importa mais”, são de profundidades poéticas e filosóficas. Como vários princípios são invertidos em nossa sociedade atual, o contexto corrobora com a ideia de William Shakespeare que dizia: “Não há legado mais rico que a honestidade”.

É indiscutível a qualidade técnica dos “elementos”, tanto que o álbum mantem o alto padrão durante todas as cinco faixas. Energicamente inspirado, o disco é carregado de climáticos e adversos momentos, um exemplo desta alquimia é a faixa DESPERTAR DO PARTO. Com um solo introdutório cheio de emoção, a composição mais bonita do disco retrata o nascimento do filho de Alex Campos (vocal e guitarra), a faixa faz um contraponto entre a emoção de ser pai e o amor que o vocalista sente pelo próprio pai, a música é uma excelente homenagem as geração paternas de uma família.

Talvez a música mais pesada a saltar dos vagões do último expresso, seja a EXILADOS. Com um vocal mais agressivo (se comparado as canções anteriores), EXILADOS despeja riffs potentes e uma letra que podemos julgar como sendo sobre integridade.
O questionamento proposto pela banda nesta faixa, trata de forma carrancuda a falsa moral julgadora. Sabemos que o caráter muitas das vezes é imposto por nosso meio de convívio, porém, nem todos se rendem a essa “imposição”: “Não barganho minha confiança, enfie na boca esse dinheiro” (…) “quem você era antes do mundo dizer quem você deveria ser?”
A Basttardos, que é formada por Alex Campos (vocal e guitarra) e Bernardo Martins (bateria), tem como baixista uma misteriosa figura denominada Terceiro Elemento. O personagem tem características psicóticas e doentias, dignas de um serial killer. A persona tem sua faceta destacada na última faixa do disco chamada TERCEIRO ELEMENTO.
A música em minha opinião é a mais expressiva do álbum, portando-se caprichada e inspirada durante todo o decorrer de seus mais de sete minutos. Uma curiosidade da faixa, é a participação do filho de Alex Campos que narra: cuidado! Ele está atrás de você.

O Último Expresso é sem dúvida nenhuma um dos melhores discos nacionais de rock lançados atualmente, é notável a entrega e alma nas composições, músicas coesas pinceladas com climas do velho oeste, transformam o segundo registro do “bando” num deleite musical.
Altamente recomendado.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Resenha: Project Black Pantera – Project Black Pantera (2015)



A história da humanidade é coberta por inúmeros atos cruéis e preconceituosos, fatos estes que posso enumerar facilmente visto nossa vasta ignorância e preconceito. Inquisição, guerras mundiais, corrupção e escravidão mancham de sangue nossos livros de história, transformando nossa raça em uma das mais violentas dentre os animais.
A música, em especial o Rock/Metal, sempre foi libertária e contrária a estes tipos de opressões. Desde o período clássico, a música vem expressando nossos descontentamentos, seja eles a favor ou contra o ponto central da questão. O fato é que não tem diferença entre Mozart e Steve Harris, visto que ambos pavimentaram suas músicas através do concreto cultural e expressivo de nossa humanidade.
Formada em 2014, a banda Project Black Pantera, provinda de Uberaba (Minas Gerais), também escreve suas músicas com esse lado expressivo de nossa história, tanto que o nome da banda tem ligação cultural com o partido dos Panteras Negras.
O partido dos Panteras Negras, que foi fundado em 1966 na cidade de Oakland, Califórnia, foi uma organização política extraparlamentar socialista revolucionária norte-americana ligada ao nacionalismo negro. O objetivo do grupo, no princípio, era patrulhar guetos negros para proteger a população dos atos de brutalidade por parte da polícia, no qual eles acusavam de ser racista. Após o crescimento do grupo, os Panteras Negras adotaram uma filosofia revolucionária e marxista que defendia o armamento dos negros, além de exigir a isenção dos impostos e de todas as sanções da então chamada “América Branca”. Lutavam também pela libertação de todos os negros da cadeia, e tentavam forçar o governo a pagar indenizações por “séculos de exploração branca”.

O debut autointitulado do power trio é simplesmente espetacular, e assim como o programa dos dez pontos dos Panteras Negras, onde o grupo listava pontos que desejavam e acreditavam, o disco veio com exatas 10 faixas, mais dois bônus.
O álbum abre com um soco na cara chamado “Boto Pra Fuder”. A canção é direta e pesada. O baixo distorcido faz uma ótima base para o canto que arrebenta. Tanto a “Boto Pra Foder” quanto a segunda faixa, “Ratatatá” (que por sinal tem ótimos slaps), são de cunho viciantes e empolgantes.
Todas as faixas do disco são de um estilo muito particular, tanto que não consigo rotular o trabalho do Project Black Pantera – somente que é uma variação de Thrash, Hardcore, Punk e Crossover. Mesmo cantado em português, a banda tem um leque de críticas favoráveis em países como França e Estados Unidos, mostrando a força artística do grupo.
A parte gráfica e física do CD são bem criativas. A logomarca, composta por Rauy Cardoso, junto das imagens feitas por Andreza Rodrigues, são marcantes e dão seriedade ao trabalho. Uma foto que me chamou a atenção é uma onde os membros estão de punhos erguidos. Esse gesto (raised fist) é um símbolo dos Panteras Negras. Na Olimpíada da Cidade do México em 1968, Tommie Smith e John Carlos, atletas afro-americanos, fizeram essa saudação durante a cerimônia de premiação da modalidade, após vencerem os 200 metros rasos, por julgar o ato dos atletas como sendo uma manifestação política, ambos foram banidos dos Jogos pelo Comitê Olímpico Internacional.

O álbum segue com a monstruosa instrumental “Godzilla”, esta que abre caminho para uma das melhores faixas do disco, “Eu Sei”. Sendo intencional ou não, a letra de “Eu Sei” retrata um pouco o pensamento da ala mais radical do movimento dos Panteras Negras, que defendia a luta armada e pregava que o governo branco omitia a verdade e vendia uma falsa visão de paz e igualdade:
“Omitem a verdade, eu sei, paz e igualdade, pra quem? Quer cair pra dentro, então vem!”
A ferocidade continua com a faixa “Rede Social”, onde a banda destila críticas a indivíduos que abusam das redes sociais de forma politicamente incorreta. A canção tem um groove marcante e pavimenta o caminho para a música mais Hardcore do disco, “Abre A Roda e Senta O Pé”, que é um convite irrecusável ao moshpit; destaque para o solo de baixo executado com muita pegada por Chaene da Gama ao 1:48 minuto.
“Execução Na Av. 38” e “Manifestação” são dignas de aplausos, o Thrash/Crossover com pitadas de Hardcore são muito bem amalgamados, mostrando toda a capacidade inovadora do grupo. Nos bônus, podemos encontrar uma versão em inglês para “Manifestação” e uma mixagem diferente para a “Execução Na Av. 38” feita pelo site norte-americano Afropunk, contendo a participação do rapper J. Cole.
Simplesmente matador esse primeiro trabalho do Project Black Pantera! Músicas agressivas e bem compostas junto ao verniz histórico dos Panteras Negras faz deste debut uma obra de arte. Para encerrar, vou deixar aqui as frases finais recitadas por Charles Gama na música “Escravos”:

“Todos nós nascemos livres e assim tem de ser,
Mas a prisão ainda existe, até um cego pode ver
Todos nós somos iguais, somos todos filhos de Deus
Tanta guerra não traz paz, a cor do teu sangue é igual ao meu.”

Integrantes:
Charles Gama (guitarra/vocal);
Chaene da Gama (baixo/vocal);
Rodrigo Pancho (bateria).
Faixas:
01 – Boto Pra Fuder
02 – Ratatatá
03 – Godzilla
04 – Eu Sei
05 – Rede Social
06 – Abre A Roda e Senta O Pé
07 – Execução Na Av. 38
08 – Manifestação
09 – Ressurreição
10 – Escravos
Bônus:
11 – Manifastation
12 – Execução Na Av. 38 feat. J. Cole (Mix By Afropunk)


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Saxon: o blackout que rendeu um clássico


Um dos maiores clássicos da carreira do Saxon, “747 (Strangers In The Night)” é uma das mais fortes e significativas composições do álbum “Wheels of Steel”, lançado em 5 de maio de 1980. A faixa, que além de ser inspirada e técnica, conta ainda a real história ocorrida durante um blackout que assolou os EUA e Canadá.
No dia 9 de novembro de 1965, numa terça-feira, uma significativa interrupção no fornecimento de eletricidade em Ontário no Canadá e Connecticut, Massachusetts, Nova Hampshire, Rhode Island, Vermont, Nova York e Nova Jersey nos Estados Unidos deixou cerca de 30 milhões de pessoas e 80 mil milhas quadradas (207 mil km²) sem energia elétrica.
No mês de novembro, as noites frias são mais severas nestes países, e comumente o uso de aquecedores, iluminação e eletrodomésticos dobram, porém naquela semana acabou-se consumindo mais energia do que o previsto. As equipes de manutenção elétrica não haviam liberado energia suficiente para a população, empurrando o sistema elétrico para perto de sua capacidade máxima, fazendo com que as chaves de segurança da estação se desligasse por sobrecarga.

O apagão, que durou cerca de 12 horas, afetou vários serviços, incluindo estações de rádio e TV. O blackout ainda favoreceu criminosos que saquearam e cometeram crimes variados. Porém um drama pouco mencionado é referente a um voo da Scandinavian Airlines, e é através deste acontecimento que a canção “747 (Strangers In The Night)” desdobra-se.
A faixa menciona o voo “Scandinavian 101” no entanto, o fato ocorreu com o voo 911 da Scandinavian Airlines. Devido ao apagão, o aeroporto “John F. Kennedy” (Nova Iorque), ficou totalmente invisível ao piloto, impossibilitando o avião de pousar. Sendo assim, o 747 voou até que seus tanques reservas ficassem abaixo do nível de segurança, transformando seus tripulantes em verdadeiros “estranhos na noite”. O fato causou uma grande revisão na segurança das aeronaves referente aos tanques de combustíveis reserva, já que nestas condições uma queda seria inevitável.

“747 (Strangers In The Night)” é um clássico absoluto do grupo, tanto que até hoje a canção faz parte do repertorio da banda em seus shows. Além de contar com bastante expressividade o ocorrido com o Scandinavian Airlines, a faixa ainda tem um refrão climático e instrumentais inspirados, figurando-se numa das músicas  mais marcantes na história do Saxon.






quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Rush: a relação entre “Tom Sawyer” e a obra de Mark Twain



Lançado em 7 de fevereiro de 1981, o álbum “Moving Pictures” do Rush trouxe ao mundo um dos seus maiores clássicos, a canção “Tom Sawyer”. A faixa em questão ajudou e muito o álbum a ser um dos mais vendidos do grupo, tanto que rendeu a banda o disco de platina quádruplo.
A letra de “Tom Sawyer” traz o retrato de um rebelde dos dias modernos que paira sobre o mundo, porem com ampla visão e senso de propósito. Segundo o baterista Neil Peart, a letra fala sobre como reconciliar o garoto e o homem dentro do indivíduo, além de ressaltar a diferença entre o que as pessoas realmente são e o que os outros apenas percebem que elas sejam. A analogia num todo é feita através da personalidade simbólica de “Tom Sawyer”, personagem famoso do escritor Mark Twain em seu livro “As Aventuras de Tom Sawyer”.
Mark Twain é considerado o pai da literatura americana moderna e deu vida a dois dos mais importantes e carismáticos personagens americanos de livros infantis, Huckleberry Finn e seu amigo Tom Sawyer.
Publicado em 1876, “As Aventuras de Tom Sawyer” traz as peripécias do garoto Tom que vive com sua tia Polly, seu irmão Sidney e a sua prima (filha da sua tia), chamada Mary numa pequena cidade nas margens do rio Mississippi, nos Estados Unidos. Junto a seu melhor amigo Huckleberry Finn, Tom se mete nas mais variadas aventuras, encrencas e descobertas juvenis, todas através do prisma cultural vigente nos Estados Unidos do século XIX, onde a religiosidade, pragmatismos, preconceitos e escravidão eram expostos sem pautas.

Muitos definem a personalidade de Tom Sawyer como sendo de um rebelde, porém ele se porta apenas com o um garoto esperto, inteligente e muitas vezes mal compreendido, tanto que durante o decorrer de suas histórias percebemos o quão grande é seu coração, o que inclusive acaba lhe transformando num verdadeiro herói local. Vale lembrar que seu amigo Huckleberry Finn foi protagonista de um dos mais controversos livros de Mark Twain, chamado “As Aventuras de Huckleberry Finn”, publicado em 1884. A obra é considerada uma continuação de “As Aventuras de Tom Sawyer”, e até hoje muitos julgam o trabalho como sendo racista devido ao tratamento que Jim, um escravo, é o mais ignorante de todo o livro, recebe. O enredo traz o garoto Huckleberry “ajudando” o escravo Jim a fugir numa balsa através do rio Mississippi.
Numa apresentação do Rush, os personagens do desenho South Park aparecem no telão tocando “Tom Sawyer”, só que com a letra errada, fazendo referência a Huckleberry Finn e Jim, ao ser alertado do erro, a bandinha faz a contagem para recomeçar a canção, porém quem toca desta vez é o Rush.
Acompanhe o vídeo:

“Tom Sawyer” é uma canção que transpassa o limite da técnica e mostra com genialidade como expressões artísticas diferentes podem sim ser mescladas e divulgadas com uma roupagem diferente. Se nunca leu as “As Aventuras de Tom Sawyer” vale muito a pena, existe também um ótimo filme de mesmo nome que mostra com bastante fidelidade o enredo do livro.
Assista o filme completo no YouTube:



segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Iron Maiden: análise temática do álbum “The Book of Souls” (Parte 2)


Dando continuidade à análise temática do álbum “The Book of Souls”, do Iron Maiden, vamos visitar agora o tema faixa a faixa do segundo disco desta magnífica obra de arte.

Death Or Glory
Escrita por Adrian Smith e Bruce Dickinson, “Death Or Glory” abre o segundo disco do álbum trazendo uma incrível homenagem ao piloto alemão Manfred Von Richthofen.

Nascido em 2 de maio de 1892 na cidade de Breslau (Breslávia), na Alemanha (atualmente Wrocław, Polônia), Richthofen foi um notório piloto de caça que atuou durante a segunda guerra mundial, chegando a somar a imbatível marca de oitenta vitórias. Richthofen pilotava um triplano vermelho (Fokker DR.1), e por deter o título de “Freiherr” (“Senhor Livre”), uma posição nobre traduzida como “barão”, ganhou o significativo apelido de “Barão Vermelho”, com o qual ficou mundialmente conhecido.

A técnica de combate do Barão era incrível, Richthofen posicionava seu avião entre o oponente e os raios solares, dificultando assim a visibilidade de seu inimigo e facilitando seu disparo fatal. Orgulhoso, o piloto descrevia seus movimentos da seguinte forma: “Meu avião escala os ares como um macaco e gira como um diabo”. Na letra de Bruce Dickinson essa técnica, e afirmação, são descritas no pré-refão da canção: “Turn like the devil, shoot straight from the sun / Climb like a monkey out of hell where I belong” (Giro como um diabo, disparo em linha reta para sol/ Escalo como um macaco para fora do inferno onde eu pertenço).
Recentemente, a banda lançou um excelente vídeo ao vivo para a música que traz uma divertida “imitação” de Bruce Dickinson, que gesticula junto ao público como sendo um macaco, descrevendo de forma criativa e caricata a técnica avassaladora do Barão Vermelho.
Confira o lindo vídeo da canção:

Logo no início da faixa a letra narra: “Levo uma bala em meu cérebro, dentro de mim, eu sou o rei da dor” (00:47). Essa parte da letra é referente ao tiro que o piloto levou em julho de 1917. Aliás, muitos julgam que a imprudência (e morte) do Barão em sua última batalha foram devido ao projetil alojado em sua cabeça, este que o limitou desde então. Richthofen morreu em combate no dia 21 de abril em 1918 próximo a Amiens, na França. A causa de sua morte foi um tiro fatal no coração.
Shadows of The Valley
“Shadows of The Valley” é uma das músicas mais ambíguas do Iron Maiden, abrindo vários caminhos para interpretações e deduções. Muitos dizem que a faixa foi baseada, assim como a música “The Pilgrin” do álbum “A Matter of Life and Death”, no livro “The Pilgrim’s Progress From This World To That Which Is To Come”, do autor britânico John Bunyan.
Já outros afirmam que a canção foi inspirada em uma foto feita pelo famoso fotógrafo inglês Roger Fenton. A imagem em questão é uma das mais populares do artista e chama-se “Shadow of The Valley of Death”. A foto foi concebida no local da guerra de Crimeia e registra a localidade onde a cavalaria britânica enfrentou os russos. Este local é o mesmo descrito no conhecido poema “Charge of The Light Brigade” de Alfred Lord Tennyson, poema este que serviu de inspiração para o Iron Maiden na famosa música “The Trooper”.

O fato é que não se pode afirmar com exatidão o contexto da faixa, até porque ele permeia até mesmo a versículos bíblicos, como no caso do trecho: “Into the valley of death fear no evil / We will go forward no matter the cost” (05:50), (dentro do vale da morte não tema nenhum mal, nós seguiremos em frente), que se assemelha e muito com o salmo 23:4: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo”. Porém, em minha opinião, a canção é uma ótima junção de todas essas ideias, visto que a faixa traça seu caminho descrevendo o pecado humano e sua máxima, todas em contraponto a sentimentos diversos.
Tears of A Clown
Umas das melhores músicas do trabalho foi também uma das mais aguardadas, já que abertamente a banda afirmou se tratar, em parte, sobre o ator e comediante Robin Williams.
 A canção faz analogia em torno da depressão que assola muitos artistas que trabalham com humor. Por incrível que pareça, isso chega a ser “comum” no meio da comédia, tanto que existem psicólogos especializados exclusivamente neste assunto. Aparentemente existe uma relação entre uma suposta felicidade e a profunda depressão, no caso, as risadas tornam-se um tipo de defesa contra os problemas corriqueiros da vida, escondendo através da “alegria” uma dor incalculável.
O ator Robin Williams, que dispensa apresentações, foi encontrado morto em sua casa, em Paradise Cay, Califórnia, no dia 11 de agosto de 2014, após cometer suicídio por asfixia. Segundo Mara Buxbaum (agente do ator), Williams estava sofrendo de uma depressão muito complicada.

“Tears of A Clown” (Lágrimas de Um Palhaço) faz menções diretas a Pierrot, personagem da Commedia dell’Arte, um palhaço triste que é apaixonado pela Colombina, esta que lhe parte o coração ficando com o Arlequim. Pierrot, que na verdade é uma variação francesa do Pedrolino italiano, é comumente representado usando roupas largas e brancas, por vezes metade pretas, rosto branco e uma lágrima desenhada abaixo dos olhos, uma de suas características latentes é a ingenuidade.

The Man of Sorrows
Quando vivemos “mecanicamente”, onde todo o nosso esforço está no trabalho, problemas diários, contas e todos os empecilhos que a sociedade vorás impõem, acabamos deixamos nossos sonhos pessoais passarem em branco, como se “jogássemos pedrinhas na maré do oceano” (00:49), abrindo assim, um parêntese para sermos homens amargurados.
“The Man of Sorrows” traz de forma peculiar este questionamento e propõem que ao observarmos nossos erros. Ao observar o homem de amarguras, podemos perceber “através da névoa da verdade” (01:30), aquilo que por muito tempo julgamos ser apenas ilusão.
Empire of The Clouds
A faixa de encerramento do álbum não poderia ser mais grandiosa, “Empire of The Clouds” é simplesmente épica. A canção composta no piano por Bruce Dickinson relata de forma magnífica os acontecimentos reais ocorridos com o dirigível R-101.
O dirigível R-101 foi construído no final da década de 20. Coberto pela relva da grandeza, ele representava o orgulho do império britânico.
A aeronave era a maior embarcação rígida já construída, com exorbitantes 220 metros de comprimento. Foi desenhada para que seus tripulantes tivessem o maior conforto e luxo possível, o papel principal do R-101 era fazer viagens distantes, para Índia e Canadá, por exemplo.


Devido à diversas alterações no projeto original, a aeronave demonstrou ter problema de peso, e por mais que os engenheiros tentassem, nada foi resolvido, as inúmeras “soluções” acabavam por deixar a aeronave ainda mais pesada.
A pressão política sobre o ministro do ar, Lorde Christopher Thompson, era muito grande devido aos gastos. O fator político decidiu então que o R-101 faria seu voo inaugural durante a conferência imperial de 1930. A pressa fez com que testes em altas velocidades e condições climáticas desfavoráveis não fossem realizados com satisfação. Então em 04 de outubro de 1930 o R-101 faz seu primeiro (e último) voo com destino a Karashi.
A música começa neste ponto. Uma linda melodia enche os ares com uma calmaria quase que poética, descrevendo perfeitamente o clima calmo daquela manhã de 1930:
Para cavalgar a tempestade, para um império nas nuvensPara cavalgar a tempestade, eles subiram a bordo de seu fantasma prateadoPara cavalgar a tempestade, para um reino que viráPara cavalgar a tempestade, e dane-se o resto… esquecimento
Bruce recita um canto majestoso, como se o próprio céu se curvasse a grandeza daquela aeronave. Então a próxima linha musical desenha seu enredo narrando o voo e seus tripulantes, estes que celebravam a viagem e riam diante a possibilidade da aeronave cair: “uma em um milhão” ironizava a realeza, para a Índia o “tapete mágico” deveria seguir:
Realeza e dignitários, Brandy e charutosGigante Dama Cinzenta dos CéusVocê os acolhe a todos em seus braçosA milionésima chance, eles riramDe derrubar o dirigível de Sua Majestade‘Para a Índia’, eles dizem, ‘Tapete mágico, vá voando’Em um funesto dia de OutubroA névoa nas árvoresAs pedras suam com o orvalhoO nascer do sol, vermelho antes do azulPendurado no mastroEsperando pelo comandoA aeronave de Sua MajestadeO R-101
A música vai ganhando peso e um clima carregado e preocupante. As guitarras e bateria tecem climas mais densos. Ao ponto que enaltece o gigante no ar Bruce recita e antecede a fúria que estava por vir:
É a maior embarcação feita pelo homemUm gigante dos céusPara todos os incrédulosO Titanic cabe dentroRufem os tambores, apertem sua pele de lonaPrateada no solNunca testada com a fúriaCom a surra que estava por virA fúria que estava por vir
O peso toma conta, como se o peso excessivo do próprio R-101 descrevesse sua história, relembrando com perfeição da tempestade vista a oeste, lamentando pelo ego da tripulação que decide prosseguir mesmo desconhecendo seu “calcanhar de Aquiles”. A força política era gigantesca, medido centímetro a centímetro com a própria marca da aeronave. Porém o destino fazia ali sua alquimia.
Reunidos na penumbraUma tempestade se levantando a oesteO timoneiro observouEm seu equipamento de previsão do tempoTemos que ir agoraTemos que arriscar nossa chance com o destinoTemos que ir agoraPor um político, ele não pode se atrasarA tripulação da nave, acordada por trinta horas de trabalho seguidoMas a nave está em seu sangue, cada músculo, cada polegadaEla nunca voou a toda velocidadeUm teste nunca realizadoSua frágil cobertura externaSeu Aquiles se tornariaUm Aquiles que ainda viriaMarinheiros do céu, uma guarnição endurecidaLeais ao rei, e ao credo de uma aeronaveOs motores batemO telegrafo soaSoltem as cordasQue nos prendem ao chão
Com uma expressão quase que teatral, Bruce encarna o timoneiro como se vivesse através dos olhos do mesmo. Uma parte linda e histórica perfeitamente destrinchada. Uma poesia em forma de música:
Disse o timoneiro ‘senhor, ela é pesada’‘Ela nunca fará este voo’Disse o capitão ‘dane-se a carga’‘Seguiremos nosso caminho esta noite’As pessoas em terra exclamaram, maravilhadasEnquanto ela se afastava do mastroBatizando-se em sua águaDe seu lastro, da frente para trásAgora, ela escorrega para dentro de nosso passado
A cadência toma conta dos acordes, deslizando junto ao primeiro voo do gigante, e é neste momento que o Iron Maiden genialmente, através das guitarras, baixo e bateria, exatamente aos 6:55 minutos reproduz um sinal de código Morse, S.O.S., alertando todos sobre o pedido de socorro dos tripulantes. ESPETACULAR!
Um riff lindo e climático é executado. Quase que se ouve os lamentos da guitarra, então mais uma vez o sinal de S.O.S. é reproduzido, e se transforma numa digitação que nos remete aos tempos áureos de “Hallowed Be Thy Name”. A música decorre e o turbilhão de problemas da aeronave é representado pelo instrumental, culminando no solo de Dave Murray.
A tensão volta com o riff pós-solo (que coisa linda). Neste momento é inevitável a queda do R-101, porém a cadência também parece representar a luta da tripulação para evitar a tragédia:
Lutando contra o vento enquanto ele te assolaSentindo os motores a diesel que te empurram para frenteVendo o canal abaixo de vocêMais e mais baixo dentro da noiteAs luzes estão passando abaixo de vocêO norte da França dormindo em suas camasA tempestade está rugindo ao seu redor‘Um milhão para uma’ é o que ele disse
Após cruzarem a costa inglesa, chegando ao norte a França (que por sinal era bem longe do ponto pretendido), chega-se a região de Beauvais, famosa pela péssima condição climática.
Um riff diferente quebra o clima. A orquestração é envolvente e carregada por uma cortina tragicamente estendida sobre o tema. Bruce continua narrando magistralmente o fato. Sua voz afiada parece comungar junto ao rasgo existente na aeronave, que inundada pela água da chuva, ceifa a vida de homens experientes:
O ceifador está parado ao seu ladoCom sua foice, corta até os ossosO pânico de tomar uma decisãoHomens experientes dormem em seus túmulosSua cobertura está rasgada, e ela está se afogandoA chuva está inundando o corpo da naveSangrando até a morte, e ela está caindoGás flutuador está se esgotando‘Estamos perdidos, companheiros’, veio o lamento
Neste ponto os pianos voltam a ressoar, agora com acordes de tristeza e tensão, até o cume em que Bruce recita versos dolorosos de perda:
Mergulhando numa curva, vindos do céuTrês mil cavalos silenciaram-seEnquanto a nave começava a morrerAs chamas para guiar seu caminhoAcesas no fimO Império das NuvensApenas cinzas em nosso passadoApenas cinzas, no final
Resumido a cinzas, pouco restou do R-101; apenas uma carcaça esparramada no norte da França. Era o fim da primeira era britânica de desenvolvimento de aeronaves, enterrando não somente um sonho, mas também 48 de seus 54 passageiros, incluindo oficiais de alto escalão e o ministro britânico do ar. A música se encerra com tristes frases poeticamente seguidos por um triste e real acontecimento:

Aqui jazem os sonhosEnquanto estou parado embaixo do solNa terra onde eles foram construídosE os motores realmente funcionaramPara a lua e para as estrelasAgora, o que foi que nós fizemos?Oh, os sonhadores podem ter morridoMas os sonhos continuam vivosOs sonhos continuam vivos – os sonhos continuam vivos
Bruce faz sua despedida entre os acordes finais da música. Sua voz amarga trasborda tristeza, porém resplandece em respeito ao R-101 e principalmente aos 48 mortos que fizeram história junto ao IMPÉRIO DAS NUVENS.
Agora uma sombra na colinaO anjo do lesteO Império das NuvensDescansa em pazE em um cemitério pequeno, na igrejaDeitados de frente para o mastroQuarenta e oito almasQue vieram a morrer na França.
Simplesmente incrível! Mais que uma música; uma obra de arte fora do comum! É indescritível o quão épica é essa canção! Vou encerrar essa análise temática com as frases de Bruce a respeito do R-101:

“Os sonhadores podem ter morrido, mas os sonhos continuam vivos”