quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Monsters of Rock: o saudoso evento de 1998


O festival Monsters of Rock, criado em 1980 pelos promotores Paul Loasby e Maurice Jones, é um evento dedicado exclusivamente a bandas de Heavy Metal, Hard Rock e suas vertentes. O festival acontece anualmente em várias partes do mundo como Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, Itália, França, Argentina, ex-União Soviética e, claro, o Brasil.
Aqui, em terras tupiniquins, o primeiro Monsters of Rock aconteceu em 27 de agosto de 1994, no estádio do Pacaembu em São Paulo, tendo como atrações Kiss, Slayer, Black Sabbath, Suicidal Tendencies, Viper, Raimundos, Angra e Dr. Sin. Patrocinado pela empresa Philips, o evento brasileiro recebia o nome de “Philips Monsters of Rock” e trouxe ao nosso país grandes monstros do Rock/Metal mundial.

Uma das edições mais marcantes do evento foi a do ano de 1998. O espetáculo que aconteceu em São Paulo, no dia 26 de setembro na pista de atletismo do Ibirapuera, é considerado por muitos como sendo o melhor dentre todas as edições brasileiras anteriores. Muita controvérsia gira em torno deste tipo de “posição”, já que depende muito do gosto de cada um. Porém, alguns pontos levam a crer quer realmente o Monsters de 1998 foi sim especial, começando pelo fato do evento ter sido o que teve o maior sistema de som que já entrou na América Latina até hoje.
Sendo assim, dezoito anos depois, falarei um pouco sobre os acontecimentos deste inesquecível festival, trazendo aos mais novos as curiosidades deste dia impar e também despertando a nostalgia daqueles que, assim como eu, tiveram a oportunidade de estar presentes no Philips Monsters of Rock de 1998.
Vamos lá:
Com um ano de abstinência, o festival mais importante da América do Sul teve sua quarta edição imortalizada na pista de atletismo do Ibirapuera, diferente de suas edições anteriores que foram todas no estádio do Pacaembu (SP). O festival teve um cast incrível, o que inclusive dificultou muito na escolha do headliner, já que dentre todas as bandas convocadas três delas tinham porte e grandeza para fechar o evento.
Um ponto muito positivo e inédito até então, foi a inclusão (finalmente) de duas atrações nacionais de respeito e história: Korzus e Dorsal Atlântica. Quem viveu na época sabe da luta dessas duas bandas para estar num festival deste porte. Sendo assim, a quebradeira começou logo de cara, exatamente a uma hora da tarde com o Dorsal Atlântica. O grupo despejou clássicos e conquistou a multidão, abrindo sua apresentação com “645” e fechando com a forte “Vitória”. Apresentação incrível! O mesmo pode se dizer do Korzus – é incrível como Pompeu (vocalista) consegue dominar o público. A apresentação foi insana e também repleta de clássicos do grupo.








A primeira atração internacional foi a do “the voice of Rock” Glenn Hughes. Lembro-me que anunciaram o músico antes mesmo da bateria estar pronta, uma pequena gafe porem sem maiores danos. Hughes abriu seu set com “Stormbringer”, além de outras músicas de sua época no Deep Purple, como “You Keep On Moving” e “You Fool No One” por exemplo, além também de faixas solos e do Trapeze. Para finalizar, os presentes foram agraciados com a contagiante “Burn”, deixando todos no local enlouquecidos.


Os próximos a entrar no palco foram os estadunidenses do Savatage. Com um show memorável, o grupo conseguiu agradar. Muitos diziam antes do show que o Savatage “rende“ mais em locais fechados, porém o que se pôde ver foi o contrário: o show do Savatage foi espetacular e fez todos cantarem a plenos pulmões. Lembro-me de ver pessoas na arquibancada chutando as grades de proteção em músicas como “Gutter Bullet” por exemplo, tudo devido à grande emoção. Duvida? Assista ao vídeo abaixo e confira você mesmo!

Um fato inusitado que aconteceu logo após a apresentação do Savatage foi que, de uma hora para outra, o público começou pouco a pouco a se mover para o lado em direção da arquibancada. A multidão foi aumentando cada vez mais… foi então que percebi que Joey Demaio (baixista do Manowar) estava na arquibancada. Com um microfone na mão, Demaio fez um histórico discurso onde agradecia os fãs pela espera da volta do Manowar ao Brasil. Foi simplesmente surreal!

Depois de uma grande pausa, o Dream Theater veio ao Monster com um repertoria fantástico que foi desde “Under Glass Moon” até “Peruvian Skies”. Claro que o clássico “Pull Me Under” não poderia ficar fora do espetáculo, que se encerrou com a sensacional “Metropolis”. Com muita técnica, o grupo conseguiu mostrar que suas músicas funcionam em qualquer ambiente, seja ele mais intimista ou em festivais maiores como o Monster of Rock.


Com muitos assovios no microfone, o Saxon trouxe ao Monsters um clássico após o outro. Faixas como “Dogs of War”, “Unleashe The Beast”, “Motorcycle Man”, “Power and The Glory”, “Princess of The Night” e “Crusader” fizeram São Paulo tremer junto a um coro digno de aplausos. Para aqueles que são fãs de Heavy Metal tradicional, o show do Saxon foi a melhor apresentação da noite.





Uma banda que me chamou muito a atenção nesta edição do Monsters foi, sem dúvida, o Manowar. O grupo tinha prometido voltar para o Brasil após um show cheio de problemas a uns anos atrás. A promessa seria cumprida com requintes de crueldade no Monsters of Rock. Sim, o Manowar conseguiu ser a banda principal, mesmo o headliner oficial sendo o Slayer. Não se falava em outra coisa durante a semana do show. Muitos, aliás, diziam que o correto seria o Manowar fechar o evento.
Antes mesmo da banda pisar no palco, muitas pessoas no local já gritavam “KINGS OF METAL” a plenos pulmões, e quando os primeiros acordes da canção “Manowar” estouraram nos autofalantes, a pista de atletismo do Ibirapuera veio abaixo – era o delírio total. Erick Adams estava numa forma incrível; sua voz estava avassaladora. Pude ver pessoas chorando ao ouvir músicas como “Gates of Valhalla” e “Metal Daze”. Com toda certeza, o show do Manowar foi o melhor da noite.
Muita coisa aconteceu no show do Manowar: discurso, fã tocando com a banda, destruição de guitarra e baixo e até mesmo a presença do filho do jogador Pepe (Santos), que mostrou para mais de 20 mil pessoas seu amor ao Manowar com uma tatuagem do logo da banda nas costas.


Se quiser assistir a essa apresentação histórica na íntegra, o Manowar lançou um DVD chamado “Fire and Blood”, que contém dois discos: o “Heel On Earth Part 2” e o “Blood In Brazil”, que trazem essa incrível apresentação no Philips Monsters of Rock de 1998.


Confesso que depois do show do Manowar, considerei o festival por encerrado, porém ainda tínhamos a apresentação de dois grandes nomes do Thrash Metal mundial: Megadeth e Slayer. O Megadeth subiu ao palco com seriedade e despejou um set grandioso com “Holy Wars”, “Symphony of Destruction”, “A Tout Le Monde” e “Angry Again”. Mustaine com muita competência trouxe para o Monsters um Megadeth incrível e dedicado. A apresentação do grupo ficou com a conhecida dobradinha “Peace Sells” e “Anarchy In UK”. Particularmente, considerei o show do Megadeth um dos melhores da noite. Ouvir Mr. Marty Friedman executando canções clássicas do Thrash Metal é uma coisa que não tem como reclamar.





Chegou a hora dos donos da festa. O Slayer, como sempre, foi monstruoso. Executando uma música em cima da outra, a banda apresentou algumas faixas da tour atual mais alguns clássicos da banda, como “Hell Awaits” (que foi emendada com a “Evil Has No Boundaires”) e “South of Heaven”.
O final da apresentação foi marcado por músicas das antigas. Umas delas foi “Chemical Warfare”, finalizando com a poderosa “Angel of Death”, do clássico “Reign In Blood”.