quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Resenha: Basttardos – O Último Expresso (2015)


No século XIX, precisamente entre os anos de 1860 a 1890, durante a expansão da fronteira dos Estados Unidos para a costa do Oceano Pacífico, vários acontecimentos e lendas cercaram este período que ficou conhecido popularmente como FAROESTE. Entres os personagens históricos desta época temos os famosos “Touro Sentado” e “William Cody”, o famoso Buffalo Bill.
A riqueza artística figurada neste oeste selvagem, foi amplamente explorado por filmes, livros e até mesmo Gibis, transformando o período num dos mais populares.
Formado em 2010, a banda Basttardos do rio de Janeiro escolheu como base fotográfica e musical este clima típico. O grupo lançou em dezembro de 2015 o petardo “western”, O Último Expresso, o álbum em questão traz uma produção excelente, e músicas bem compostas, todas polidas com técnica e sentimento.

O álbum abre com a viciante BASTTARDOS. Com uma introdução digna dos filmes de Django, a música é uma apresentação da banda, que de forma criativa, faz uma analogia entre o grupo e o faroeste. A faixa traz de forma peculiar alguns questionamentos relevantes, como por exemplo nas frases do refrão:
“Sem medo de ter medo, o legado importa mais (…) “Procurados”, como cowboys fora da lei”
A questão do medo a muito é estudada por diversos professores em torno do globo, aliás, existe um livro chamado “SEM MEDO DE TER MEDO”, escrito por TITO PAES DE BARROS NETO que trata de forma contundente esse assunto. Outro ponto a ser mencionado, é o fato dos “fora da lei”. Nicolau Maquiavel, dizia que nunca faltará ao príncipe razões legítimas para burlar a lei, e que, é mais seguro ser temido do que amado, desta forma, creio que os temidos cowboys adversos as leis do velho oeste, corroboram ideologicamente (em parte claro), com o pensamento do historiador, poeta, diplomata e músico italiano.
As frases finais da música, “para viver fora da lei, é preciso ser honesto”, junto a máxima do álbum “o legado importa mais”, são de profundidades poéticas e filosóficas. Como vários princípios são invertidos em nossa sociedade atual, o contexto corrobora com a ideia de William Shakespeare que dizia: “Não há legado mais rico que a honestidade”.

É indiscutível a qualidade técnica dos “elementos”, tanto que o álbum mantem o alto padrão durante todas as cinco faixas. Energicamente inspirado, o disco é carregado de climáticos e adversos momentos, um exemplo desta alquimia é a faixa DESPERTAR DO PARTO. Com um solo introdutório cheio de emoção, a composição mais bonita do disco retrata o nascimento do filho de Alex Campos (vocal e guitarra), a faixa faz um contraponto entre a emoção de ser pai e o amor que o vocalista sente pelo próprio pai, a música é uma excelente homenagem as geração paternas de uma família.

Talvez a música mais pesada a saltar dos vagões do último expresso, seja a EXILADOS. Com um vocal mais agressivo (se comparado as canções anteriores), EXILADOS despeja riffs potentes e uma letra que podemos julgar como sendo sobre integridade.
O questionamento proposto pela banda nesta faixa, trata de forma carrancuda a falsa moral julgadora. Sabemos que o caráter muitas das vezes é imposto por nosso meio de convívio, porém, nem todos se rendem a essa “imposição”: “Não barganho minha confiança, enfie na boca esse dinheiro” (…) “quem você era antes do mundo dizer quem você deveria ser?”
A Basttardos, que é formada por Alex Campos (vocal e guitarra) e Bernardo Martins (bateria), tem como baixista uma misteriosa figura denominada Terceiro Elemento. O personagem tem características psicóticas e doentias, dignas de um serial killer. A persona tem sua faceta destacada na última faixa do disco chamada TERCEIRO ELEMENTO.
A música em minha opinião é a mais expressiva do álbum, portando-se caprichada e inspirada durante todo o decorrer de seus mais de sete minutos. Uma curiosidade da faixa, é a participação do filho de Alex Campos que narra: cuidado! Ele está atrás de você.

O Último Expresso é sem dúvida nenhuma um dos melhores discos nacionais de rock lançados atualmente, é notável a entrega e alma nas composições, músicas coesas pinceladas com climas do velho oeste, transformam o segundo registro do “bando” num deleite musical.
Altamente recomendado.