domingo, 31 de julho de 2016

Manowar: mitologia e música através da faixa “Achilles, Agony and Ecstasy In Eight Parts”


O Manowar lançou em 29 de setembro de 1992 seu sétimo álbum de estúdio, intitulado “The Triumph of Steel”. O álbum é uma verdadeira obra de arte que carrega músicas pesadas e de cunho grandioso. Ele, que traz em sua formação David Shankle e Rhino, dispõe de uma música “homérica” com mais de 28 minutos chamada “Achilles, Agony and Ecstasy In Eight Parts”, na qual falarei um pouco agora.
A música é dividida em oito partes (assim como sugere o nome), e é uma verdadeira aula de interpretação que discorre sobre a história mitológica de Aquiles, o guerreiro “Invulnerável”.
Aquiles era filho da ninfa Tétis e do rei dos mermidões, Peleu, e teve sua formação e treinamento junto a Quíron, o centauro, este que já teve como aprendizes, Hércules, Aristeu, Ajax e Teseu.


Sobre a “invulnerabilidade” de Aquiles, existem duas lendas referentes ao assunto. A primeira diz que Tétis, por não aceitar de forma alguma ter um filho mortal, colocou seu filho, ainda bebê, num poço com chamas mágicas. Segundo a lenda, essas chamas poderiam transformar qualquer humano em imortal. A métrica consistia em colocar diariamente uma parte diferente do corpo de Aquiles sobre as chamas, porém, quando faltavam apenas os calcanhares, Peleu viu a cena e tomou o menino das mãos de Tétis, fugindo com ele. Peleu julgou a cena como sendo uma tentativa de assassinato.  A segunda versão conta que Tétis tentava banhar Aquiles nas águas sagradas do Rio Estige, segurando o bebê apenas pelos calcanhares, porém, da mesma forma que a primeira versão, Peleu apareceu e levou a criança. Isso fez com que o Aquiles ficasse invulnerável, com exceção claro, de seu calcanhar.


Aquiles teve ligação direta na batalha entre gregos e troianos. Tudo começou quando a instabilidade politica na região tornou-se intensa. A guerra por si só era apenas uma questão de tempo. Para que isso acontecesse, faltava apenas um motivo relevante, e foi então que uma disputa entre as deusas, Afrodite, Atena e Hera serviu de estopim. As deusas queriam saber qual delas era a mais bela, então escolheram Páris como juiz, príncipe de Troia. Afrodite foi a vencedora do concurso após ter prometido a Páris a mulher mais bela do mundo, e para cumprir sua promessa, raptou Helena, a esposa do rei da temida Esparta, Menelau.
Troia, que era governada pelo rei Priamo e seus dois filhos Páris e Heitor, entrou em estado de alerta, já que após esse sequestro, a guerra contra Troia era inevitável.
Após algumas recusas por parte de Aquiles e de sua mãe referente a sua participação na guerra, uma conversa com o príncipe Ulisses acaba convencendo o guerreiro de lutar juntos aos Gregos.
Após meses de grandiosas vitorias onde Aquiles com poucos soldados aniquilava muitas cidades, territórios e bases militares dos troianos, uma desavença com Agamenon, rei de Micenas, faz com que Aquiles abandone os campos de batalha, o que deu uma extrema vantagem aos troianos.
Com as tropas gregas à beira da completa destruição, Pátroclo, que era o melhor amigo de Aquiles, decide liderar os mirmidões na batalha fingindo ser o próprio Aquiles, para isso ele vestiu a armadura e usou o carro de batalha de seu amigo. Pátroclo conseguiu expulsar os troianos das praias ocupadas pelos gregos, porém acabou sendo morto por Heitor.
Quando Aquiles sente falta de sua armadura, acaba descobrindo que seu melhor amigo foi morto por Heitor, então, para vingar a morte de Pátroco Aquiles volta a lutar contra os troianos, porém, agora para dar um basta definitivo na guerra.
A música do Manowar é referente a esta vingança de Aquiles, e sua crucial batalha contra Heitor:
Aquiles vai sozinho até as muralhas de Troia e desafia Heitor. Uma luta árdua é travada! Contudo, Aquiles, que carregava muito ódio em seu coração, atravessa uma lança na garganta de Heitor que morre na hora. Não satisfeito, amarra o corpo de Heitor em seu carro e arrasta o defunto durante nove dias pelos campos de batalha.

A música descreve poeticamente esse trecho da historia, dividindo em oito partes os acontecimentos:
“Prelude”
I. “Hector Storms The Wall” (HEITOR ASSALTA A MURALHA)
II. “The Death of Patroclus” (A MORTE DE PATROCLUS)
III. “Funeral March” (MARCHA FUNERÁRIA)
IV. “Armor of The Gods” (ARMADURA DOS DEUSES)
V. “Hector’s Final Hour” (A HORA FINAL DE HEITOR)
VI. “Death Hector’s Reward” (A RECOMPENSA DA MORTE DE HEITOR)
VII. “The Desecration of Hector’s Body (Pt. 1, Pt. 2)” (A PROFANAÇÃO DO CORPO DE HEITOR)
VIII. “The Glory of Achilles” ? (A GLORIA DE AQUILES)
Todas as oito partes são espetaculares, tanto em expressão quanto em execução. Dessas oito, três são instrumentais, no qual inclui solos de bateria e baixo.
Logo após a morte de Heitor, os gregos criam um plano para adentrar as muralhas de Troia. Construíram um gigante cavalo de madeira e deram como presente de paz para os troianos. O cavalo foi então posto pra dentro do reino, e quando a noite chegou, vários gregos saíram de dentro do cavalo, pegando todos de Troia adormecidos. Assim, abriram os portões para que mais soldados entrassem.

Os gregos, com esse golpe de inteligência, transformaram troia em um berço de sangue, vencendo a guerra. Todavia, nos últimos minutos do conflito, Páris atinge um flecha envenenada em um dos calcanhares de Aquiles, o que fez o lendário guerreiro morrer lentamente.


Por causa do conteúdo lírico contido na música do Manowar, a canção acabou atraindo a atenção de um grupo de pesquisadores da Universidade de Bolonha, na Itália. A professora de História Clássica Eleonora Cavallini escreveu o seguinte sobre a canção:
“A letra de Joey DeMaio implica numa cuidadosa e escrupulosa leitura da Ilíada. O compositor focou sua atenção especialmente na batalha crucial entre Heitor e Aquiles, e parafraseou algumas passagens do poema para uma estrutura melódica com certa fluência e parcialmente reinterpretando-a, mas nunca alterando ou distorcendo a história de Homero. O propósito da letra (e também da música) é evocar as características de alguns cenários homéricos: a tempestuosidade da batalha, a barbárie, a feroz exultação do vencedor, a tristeza e a angústia do lutador que pressente a morte sobre ele. Toda a ação se dá sobre Heitor e Aquiles, que são representados como personagens opostos, divididos por um ódio irascível e ainda assim unidos por um destino em comum. Ambos são retratados no momento da maior exaltação, enquanto regozijam sobre o sangue dos inimigos mortos, mas também de mais extrema dor, quando o demônio da guerra finalmente se apossa deles. Mais além, diferentemente do irreverente e iconoclasta Troia, a canção tem o divino como algo sempre presente, determinando os destinos dos humanos com ferocidade inescrutável, e apesar da referência genérica aos “deuses”, o verdadeiro mestre das vidas humanas é Zeus, o único deus ao qual tanto Heitor quanto Aquiles direcionam suas preces”.
— Eleonora Cavallini






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